1 - Temos insistido nos problemas que hoje afectam a Democracia, que tem vindo a perder valores, e isso deve preocupar quem preza direitos como a liberdade, a igualdade e o acesso à educação, à saúde e à habitação, que são direitos elementares em qualquer ponto deste mundo global. Bem sabemos que uma coisa é o direito em si mesmo que assiste a qualquer cidadão, e outra é como depois eles se tornam acessíveis.
2 - Há dias, o filósofo francês Gilles Lipovetsky apresentou em Lisboa o livro intitulado “A Sagração da Autenticidade” e abordou o que hoje se considera a chamada “fadiga democrática” por desgaste dos valores da sociedade, quando “Hoje o primeiro valor é o eu”. Essa tendência acaba por ter duas faces. Por um lado fragiliza as democracias e, por outro, também as reforça.
3 - O afastamento das pessoas em relação à política tem vindo em crescendo com destaque para os mais jovens, ficando novos espaços que são preenchidos pela violência e pelo ódio, aproveitados pelos extremistas, que pela palavra e pela acção vão gerando fadiga à Democracia, o que faz com que o número de autocracias e ditaduras tenha progredido em todo o mundo.
4 - Por outro lado, importa ter em conta um fenómeno novo que nasce em contraponto aos partidos políticos, a que se assiste também nos Açores, que é a criação de associações e de petições de grupos que se mobilizam na luta pela coisa pública, reclamando das instâncias políticas, assembleias e governos, expondo opiniões e propondo medidas, o que de certo modo contradiz o desinteresse das pessoas relativamente à política registado pelos estudos de opinião.
5 - Temos defendido que é preciso não embarcar na vertigem da “digitalização” sem ter em conta o impacto que ela terá para o emprego e para a sociedade em geral. Estamos a viver uma era em que o homem deixou de ter comando em coisas muito sérias para a civilização, porque esse comando passou para a tecnologia e ciência.
6 - Depois das armas nucleares, que são uma ameaça para a humanidade, temos já em acção drones comandados à distância que estão a ser aplicados na Guerra da Ucrânia, matando e destruindo à cega.
7 - Mas o que é arrepiante é que os cientistas que ajudaram a construir as bases tecnológicas de inteligência artificial (IA) já em uso, estão agora a clamar para os que perigos que ela representa, sem que tenham ainda noção de quais são e como evitá-los.
8 - Por outro lado, um dos pais da Inteligência Artificial, Geoffrey Hinton, durante uma conferência que decorreu Quarta-feira passada no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, alertou para o facto da sobrevivência da humanidade estar ameaçada quando “coisas” como aparelhos inteligentes nos podem atraiçoar.
9 - Outro pioneiro da Inteligência Artificial, Yoshua Bengio, e professor da Universidade de Montreal, no Canadá, disse que: “Acho que os perigos – os de curto prazo, os de longo prazo – são muito sérios e precisam ser levados a sério, não apenas por alguns investigadores, mas também pelos governos e pela população”, alertou ainda.
10 - Enquanto isso, na última reunião do G7, os sete maiores países do mundo seguindo as preocupações dos cientistas, quanto a nós tardias, resolveram aprovar uma iniciativa para que os países criem normas reguladoras da aplicação e uso da Inteligência Artificial.
11 - Há sinais de que os governos começam a estar atentos a este grande problema para a humanidade, tendo a Casa Branca, convocado os CEO da Google, da Microsoft e da Open AI, fabricante do ChatGPT, para uma reunião que já aconteceu com a Vice-presidente Kamala Harris, para iniciar a discussão quanto aos riscos de curto e longo prazo desta tecnologia e a forma de os conter.
12 - Por quanto tempo mais é que a sociedade e os governos vão manter-se alheados deste perigo para a humanidade, alertando para todos os riscos da tecnologia e regulando o que deve ser o uso e o comportamento da ciência, ou preferem antes assistir a uma guerra onde no campo de batalha esteja só a inteligência Artificial chacinando tudo o que à sua volta cheira a humano?
Américo Natalino Viveiros