Com a assinatura do auto de consignação está oficialmente dada a luz verde para a instalação de dois novos e modernos radares meteorológicos nos Açores. As estruturas serão construídas no Pico Santos de Cima (Sete Cidades), em São Miguel e no Morro Alto, na ilha das Flores. Com estes dois radares meteorológicos, a região ‘fecha’ assim a sua rede regional que já conta com um radar na ilha Terceira. Este será um investimento de aproximadamente 5 milhões de euros, montante proveniente do PRR, e a sua instalação ficará concluída já durante o próximo ano de 2024.
Na cerimónia que decorreu no Observatório Afonso Chaves, em Ponta Delgada, o Ministro da Economia e do Mar, António Costa e Silva começou por destacar o facto de este investimento ser “uma prioridade de há décadas”. Para além disso, o governante explicou igualmente a relevância destas novas estruturas para garantir uma maior fiabilidade das previsões meteorológicas.
“Estes radares são fundamentais, têm um perímetro de observação de cerca de 300 kms, são da última geração e vão permitir melhorar substancialmente a informação que é necessária para prever as condições meteorológicas, para auxiliar as populações, para aumentar a segurança e eles vão ser completados com dois detectores de raios (…) Essas estações, que são de última geração, vão permitir ver fenómenos até 800 km de altura. Tudo aquilo que tem a ver com a precipitação, com a mudança rápida das condições meteorológicas que afectam muito a vida da população dos Açores e a prevenção de eventuais furacões, fenómenos climáticos extremos, tudo isso vai ser mais fiável”, referiu.
O Ministro da Economia e do Mar frisou também que o Governo pretende afirmar “a centralidade dos Açores no Atlântico e converter a região numa grande plataforma de investigação do oceano e da atmosfera (…) Os Açores têm tudo para ter essa centralidade no Atlântico com todas estas ferramentas. É evidente que há interacção com Espanha, com outros países e penso que os países atlânticos estão todos preocupados com as mutações significativas que estão a existir no nosso Oceano Atlântico”.
Já o Presidente do Governo Regional dos Açores considerou que a instalação destas duas estações trará à Região “um melhor futuro baseado na ciência” e virá auxiliar na detecção de fenómenos meteorológicos adversos à população.
“A ciência e esta tecnologia de previsão meteorológica são um magnífico auxiliar à boa informação preventiva às populações, tendo em conta o nosso clima e a sua variabilidade”, afirmou.
José Manuel Bolieiro salientou depois que, com este auto de consignação, se estão agora a “passar das palavras aos actos”.
“Quero deixar, em nome do Governo dos Açores, uma palavra de satisfação e alegria. Estamos a começar a concretizar (…) um objectivo de décadas e que agora, definida a prioridade e assegurado o financiamento, estamos a realizar. Deixo também uma palavra ao IPMA que cumpriu com honra o seu compromisso e o seu desejo de há muitos anos, com a nossa cooperação conjunta e o entendimento do Governo de Portugal, quanto à importância estratégica deste investimento e destes radares”, frisou.
Presidente do IPMA: “Para gerirmos situações extremas temos de tomar acções muito focalizadas onde é preciso”
O Presidente do IPMA destacou que futuramente “as pessoas podem abrir o computador ou o smartphone e ver como está exactamente a imagem de satélite nos últimos 10 minutos. Podem ter uma ideia bastante simples do que vai acontecer no período seguinte”.
Miguel Miranda revelou igualmente que, com a nova tecnologia a instalar nos dois radares meteorológicos, será até possível circunscrever os actuais alertas emitidos.
“Vou dar um exemplo, as células convectivas passaram hoje a norte da ilha Terceira, e com o nosso sistema actual tivemos de pôr um alerta laranja para toda a região. Provavelmente se tivéssemos a capacidade de sermos mais finos na previsão, estávamos a limitar menos a vida das pessoas”, garante.
O responsável do IPMA salientou também o facto de estes radares “estarem a observar o Atlântico” e não apenas os Açores. As alterações climáticas e a existência, cada vez mais usual, de fenómenos extremos foram igualmente abordadas por Miguel Miranda.
“Vai haver situações extremas e, para gerirmos as situações extremas, temos de tomar acções muito pontuais e muito focalizadas onde é mesmo preciso. Não podemos parar uma ilha porque vamos ter um episódio apenas numa freguesia. Esse é o problema fundamental e o que vamos aqui tentar fazer todos, é adequar as medidas à situação que vamos viver”, realçou.
Miguel Miranda não tem dúvidas de que tempestades como o Furacão Lorenzo irão repetir-se.
“Sistemas muito extensos que passam especialmente por cima das ilhas e não propriamente entre as ilhas, irão repetir-se num futuro próximo”, alerta.
Observatório do Pico necessita de investimento: Ministro diz que isso “tem de ser uma prioridade”
O Presidente do IPMA pronunciou-se ainda sobre a necessidade de “redesenhar” e actualizar o Observatório localizado na ilha do Pico.
“Temos três sistemas de observação no centro do Atlântico; o ARM que está na Graciosa mas que é uma iniciativa internacional de origem americana a que os Açores dão apoio essencialmente através da Universidade; temos o sistema CTBTO (ilha de Santa Maria) de vigilância de explosões nucleares (…) que é apoiado pelo IPMA e pela Uac e depois temos o Observatório do Pico, que inicialmente era um Observatório para a química da atmosfera, lançado pelo professor Paulo Fialho, mas que neste momento precisa de ser redesenhado, reactualizado e a logística de observação tem de ser mantida”, garante.
Miguel Miranda considera mesmo que, tal como no caso dos radares meteorológicos, é necessário transformar esta estrutura “num Observatório que seja visto, seguido, acompanhado e estudado pelo mundo inteiro. Isso é possível porque temos as condições geográficas, as condições humanas, em particular equipas na UAc com competência para o que se está aqui a discutir e temos condições tecnológicas porque o IPMA possui competências de química analítica muito desenvolvidas”.
Precisamente sobre este Observatório, o Ministro da Economia e do Mar respondeu que este “tem de ser uma prioridade”, já que, no seu entender, apresenta as condições ideais para a medição química da atmosfera.
“Se esses registos evidenciarem um crescimento significativo de CO2, ainda por cima numa área localizada no centro do Atlântico, isso será um indicador importante para podermos agir (…) tem de ser baseada no conhecimento e na ciência para termos uma acção muito mais inteligente e eficaz para compreender as alterações climática e minimizar os seus efeitos”, referiu.
Luís Lobão