Dois homens e duas mulheres começaram ontem a ser julgados no Tribunal de Ponta Delgada por crimes relacionados com tráfico de estupefacientes. Os dois casais, um a viver na ilha de São Miguel e outro residente na área metropolitana de Lisboa, são acusados pelo Ministério Público de se dedicarem ao tráfico de quantidades significativas de haxixe. O estupefaciente seria expedido via postal desde Lisboa para Ponta Delgada seguindo, pela mesma via, os pagamentos efectuados em dinheiro para endereços localizados na zona da capital portuguesa. Os homens, acusados de tráfico agravado e igualmente de detenção de arma proibida, utilizariam os nomes das respectivas companheiras como forma de tentar dispersar atenções das forças policiais quanto à ilicitude dos actos praticados. As duas mulheres respondem em tribunal pelo crime de cumplicidade.
A Acusação do Ministério Público quer tentar provar que, entre o inicio de 2021 e Julho de 2022, data em que ambos os arguidos foram detidos preventivamente, os homens realizaram vários negócios e que cada uma das encomendas expedidas transportava entre 25 a 30 placas de 100 gramas de haxixe. O preço combinado entre os dois homens seria de 2.700 euros por quilo de haxixe, sendo que o Ministério Público acredita que o arguido a viver em São Miguel conseguiria vender o produto a cerca de 3.500 euros o quilo. Os contactos entre ambos seriam realizados através de redes sociais como o Facebook, Instagram ou Whatsapp.
A 12 de Julho de 2022 e após a GNR ter suspeitado do conteúdo de uma encomenda nos CTT em Ponta Delgada, a Policia Judiciária procedeu à sua entrega na habitação do casal residente na ilha de São Miguel. A encomenda continha no seu interior três embalagens com 30 placas de 100 gramas de haxixe. No interior desta casa foram ainda apreendidas uma soma em dinheiro, um telemóvel e aproximadamente 1 kg de liamba (erva).
Nesta primeira sessão de julgamento, em que os arguidos foram confrontados com os factos da Acusação, apenas a companheira do arguido residente em São Miguel quis prestar declarações. A mulher de 40 anos de idade, que pediu para falar sem a presença dos restantes arguidos, revelou que mantinha um relacionamento com o companheiro há sensivelmente nove anos e que ambos consumiram canábis durante esse período. Segundo afirmou, era o companheiro quem geria todas as contas do casal: “Ele é que geria a minha vida”, explicou. A arguida revelou não conhecer o outro casal presente neste julgamento e que, apesar de saber que eram expedidas encomendas em seu nome, nunca as abria e não sabia o que se encontrava concretamente no seu interior. Apesar disso, referiu ter começado a desconfiar de que as encomendas poderiam conter algum produto ilegal e que “via-o (o companheiro) mais nervoso, mais ansioso”. A mulher revelou igualmente que o seu companheiro, que trabalhou com o pai até perto do final do ano de 2020, passou depois a dedicar-se à venda de peças de automóvel que mandava vir do exterior da Região.
Depois de ter respondido a várias questões colocadas pelos juízes e pelo procurador do Ministério Público, a arguida foi aconselhada pelo seu advogado a cessar o seu depoimento, posição que seguiu. O julgamento prossegue durante a próxima semana no Tribunal de Ponta Delgada.
Luís Lobão