D. Armando Esteves Domingues

“Não os podemos vergar diante do Senhor Santo Cristo se não nos conseguirmos vergar diante as chagas de cada irmão...”

 O Bispo de Angra, D. Armando Esteves Domingues, numa mensagem sobre as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, apela aos crentes para terem em atenção as questões da espiritualidade e da meditação, que é do seguinte teor:
“Sinto uma enorme alegria por ter sido este ano também convidado para presidir às festas. Nunca estive nas Festas do Senhor Santo Cristo até hoje. Conhecia já o Santuário, há 36 anos. Agora vou ter esta oportunidade. O que gostaria de dizer? Antes de mais, gostaria de viver, mergulhar nesta comunhão de povo que à volta do seu Santo Cristo dos Milagres exprime, de uma forma espontânea e natural, a sua fé inculturada assim, estando tranquilos, serenos em clima de oração, meditação. Este é o meu primeiro desejo: estar, participar, viver, usufruir desta graça.
Depois, deixar uma mensagem de espiritualidade. Alguém dizia no início do milénio, nomeadamente quando fomos à Jornada Mundial da Juventude em Roma, no ano 2000, que este seria o século do espírito. Vimos como o espírito parece estar arredado de tantas coisas. Tudo ao contrário. Mas continuo a pensar e a ver no Santo Cristo este desafio, uma espiritualidade autêntica centrada em Jesus Cristo e inabalável. Nada abala o Senhor Jesus Cristo nem nada abala este povo. Portanto, uma espiritualidade enraizada que não tenha medo das fragilidades. Esta espiritualidade que nasce do Santo Cristo é não ter medo daquilo que somos mas saber que Deus agarra naquilo que somos e potencia-o ao máximo. É esta espiritualidade enraizada que leva a encarar todas as nossas debilidades, fragilidades e pecados como algo que o Senhor conhece, experimentou, com os quais se fez um, quase fazendo-se um com o homem para que o homem se faça um com Deus.
Mas, também, não posso deixar de lançar um desafio a uma nova etapa da missão e evangelização da Igreja, também da Igreja Açoriana. Os papas últimos, a começar em São João Paulo II, lançaram a ideia de uma nova evangelização. Já dizia ele, feita com novo ardor, novos métodos, com novo estilo. Bento XVI fez um Sínodo dos bispos sobre nova evangelização. O Papa Francisco agarra neste novo estilo de ser Igreja e põe-nos todos a reflectir e a caminhar juntos naquilo que ele chama e vai fazer um Sínodo sobre a Sinodalidade. É quase uma repetição. Sínodo é caminhar juntos, pensar sobre como é que caminhamos juntos no campo da evangelização, sobretudo na forma como construímos a comunhão, a participação e a missão juntos. Padres, leigos, com o mundo da cultura, desporto, política. Deixaria também um desafio a esta nova fase da evangelização.
Finalmente, deixo esta mensagem que Cristo veio trazer: “Dá-me as tuas feridas. Não tenhas medo delas, dá-mas. São também minhas.” Portanto, nós não podemos vergar-nos diante do Santo Cristo se não nos conseguirmos vergar diante as chagas de cada irmão, de cada doente, de cada sofredor, onde a carne viva de Cristo precisa de cuidados”.
Gostaria de os ter todos unidos na oração, no sentimento e no espírito. Sei que onde está um açoriano, está o Senhor Santo Cristo, está o Espírito Santo, as suas grandes formas de inculturar a fé. Gostaria de dizer que ali trarei sobre o altar as intenções de cada um deles que certamente, ao deixarem os Açores, deixaram a alma partida. Mas levaram essa alma partida que o Santo Cristo recomporá em todos os momentos e dúvidas da vida.
Também gostaria de desejar que, lá onde estão, que a fé fosse cada vez mais forte ainda do que aqui. Conheço muitas comunidades portuguesas no estrangeiro. Fui lá antes só aos Estados Unidos, mas conheço muitas comunidades na Europa, até mesmo uma ou outra no Oriente. Tive o prazer de ter estado na China e na Coreia, onde um compadre meu era embaixador e eu tenho que ir sempre aos sítios onde ele está. Para mim é sempre um prazer. Conhecer o que eram os cristãos no meio dessas sociedades tão diversas, por vezes até tão difíceis, e ver que a vida é sempre a mesma, que este Cristo encarna da mesma forma.
Formar é muito difícil mas o Evangelho, quando está na vida das pessoas, torna-nos a todos iguais e diferentes. Cristo é sempre novo em cada um deles. Que este Cristo novo em cada um deles na diáspora faça aquela revolução na história que ele sempre faz em todos os lados do mundo. E desejo-lhes as melhores venturas para a sua vida pessoal”.  

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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