Entrevista ao Provedor da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande, Nelson Correia

Santa Casa da Ribeira Grande assinala 430 anos de existência e avança com novos projectos de grande dimensão social

 Correio dos Açores - Quais são os objectivos que comandam a actividade  da Santa Casa da Misericórdia da Ribeira Grande?
Nelson Correia (Provedor da Santa Casa da Ribeira Grande) - O nosso objecto institucional é continuar a concretizar as 14 obras de Misericórdia, tal como estão expressas no seu Compromisso, e prestar serviços com competência e qualidade. A melhoria que tem vindo a ser realizada no aumento da eficiência e atractividade das nossas valências, bem como a subsequente aposta na melhoria contínua, é a divisa para que esta instituição multissecular possa continuar a ir ao encontro das necessidades das populações com respostas sociais e geracionais inovadoras. Para dar resposta aos seus 800 utentes, a Misericórdia conta com todo um conjunto de valências das quais realçamos: a Rede Educativa com Creche, Jardim-de-Infância, ATL, Ludoteca, SAD, CACI, Centro de Dia e os projectos Porto Seguro e Espaço Extremo de intervenção junto dos jovens em risco. Procura-se, acima de tudo, aprofundar e renovar os instrumentos de política social, orientados para a redução da pobreza e da exclusão social, trabalhando na implementação de medidas sociais pró-activas de integração e solidariedade.

Que importância tem a Misericórdia no contexto da vossa zona de acção?
Esta Misericórdia tem uma grande importância não apenas na comunidade onde está inserida, como também na ilha e na Região, que reconhecem que a actuação da Santa Casa da Ribeira Grande, que sabe fazer e faz bem, tem um peso enorme na economia social, com 220 trabalhadores e um parque automóvel de 23 viaturas. Este peso social traz-nos responsabilidades acrescidas e constitui um incentivo a prosseguirmos neste mesmo sentido, sempre com o enfoque no compromisso entre a tradição e a modernidade. Tradição, pois tem uma missão com 430 anos, que vale a pena continuar, e modernidade devido ao acompanhamento das mudanças da sociedade e da Região, que devem estar sempre ao lado a trabalhar pelos que mais precisam.

Como conseguem assegurar a sustentabilidade da Santa Casa?
Não há milagres nesta instituição, dado que a nossa preocupação é ter uma gestão muito rigorosa e para tal contamos com os lucros gerados pela nossa farmácia, que permitem manter a sustentabilidade desta Misericórdia, sendo a sua atractividade comercial a base para os resultados obtidos. Por outro lado, a actividade da lavandaria e dos seus serviços prestados à Unidade de Saúde de São Miguel, contribuem financeiramente para esta instituição, para além dos arrendamentos de património, como é o exemplo do edifício do Centro de Saúde da Ribeira Grande, da Esquadra da Polícia de Rabo de Peixe ou da Caixa Económica da Misericórdia de Angra, que são pertença desta instituição. Paralelamente, estamos muito atentos às candidaturas de projectos sociais de diversas instituições que vão surgindo e temos tido a sorte de conseguir obter financiamentos muito significativos, o que constituem oportunidades importantes para colmatar necessidades de equipamentos, viaturas e ajudas técnicas.

Que significado tem a comemoração dos 430 anos de existência dessa instituição ao serviço dos que mais precisam de apoio?
É uma enorme alegria e satisfação estar a celebrar os 430 anos de existência e é um sentimento de orgulho de termos uma instituição com esta longevidade, dado que não se trata de uma instituição qualquer. Com efeito, no longínquo ano de 1593, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia, constituída por homens bons da comunidade, imbuídos do espírito de caridade, procuraram minimizar os problemas que assolavam a sociedade daquele tempo. Inspiraram-se na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, fundada por orientação da Rainha de Portugal, D. Leonor, e escolheram o dia de Nossa Senhora da Visitação, como sua padroeira. Temos a noção que esta Santa Casa, apesar de já ter dado muito pelo desenvolvimento desta terra, sendo uma das principais entidades empregadoras deste concelho, tem muito para dar e fazer por esta comunidade e disso temos consciência. Para nós, as pessoas estarão sempre em primeiro lugar. Assim os utentes deverão ser sempre a nossa prioridade e o nosso foco, pelo que, seguindo a tradição da instituição, será necessário manter e promover obras no âmbito da acção social, garantindo o bem-estar, o conforto de vida dos utentes, através dos serviços de excelência e de cuidados especializados.
Que projectos prioritários tem a Mesa Administrativa em mãos?
Estamos focados neste mandato em concretizar vários projectos muito importantes em que, por exemplo, podemos mencionar o início do programa operacional de apoio as pessoas mais carenciadas, que é um programa que é resultado de uma candidatura feita pelo Governo Regional aos Fundos Europeus para fornecimento de cabazes com produtos essenciais pelas famílias mais fragilizadas. A nossa Santa Casa ficou como Pólo de Recepção, responsável pela distribuição pelos concelhos de Ribeira Grande, Nordeste e Povoação, pelo que tivemos que procurar parceiros nestes concelhos.
Outro projecto simbólico será a construção de um imóvel em Rabo de Peixe, onde iremos concentrar muitas das valências espalhadas naquela vila, bem como a construção, de raiz, de uma Creche e Jardim de infância que virá colmatar um problema na nossa valência do CDI, sita à Rua da Cruz, e assim dignificamos a nossa presença em Rabo de Peixe, num espaço no centro daquela vila, propositadamente adquirido por esta Santa Casa.
Por outro lado, estamos determinados na construção de uma residência assistida para 16 jovens, uma valência destinada a jovens com deficiência mental grave a profunda com idades superiores aos 16 anos, cujas famílias cada vez mais envelhecidas têm problemas com o alojamento destes jovens, cujo terreno será cedido pela Câmara Municipal da Ribeira Grande. Trata-se de um projecto que está previsto no Programa Operacional Açores 2030, comparticipado pelos Fundos Europeus Estruturais e de Investimento FEDER.

Com que apoios contam para estes projectos?
Para estes projectos prioritários temos a certeza que poderemos continuar a contar com o apoio indesmentível deste XIII Governo Regional, designadamente do Instituto de Acção Social e da Direcção Regional da Solidariedade Social, bem como da Câmara Municipal da Ribeira Grande, tendo em vista podermos desenvolver um trabalho que deve assentar na promoção e garantia de serviços de excelência aos utentes, na valorização e motivação dos recursos humanos, na conservação, na manutenção e reabilitação das infra-estruturas, na reabilitação do património, tendo sempre em atenção a garantia da sustentabilidade financeira da instituição e o financiamento de projectos ancorados no quadro comunitário de apoio.

A vossa Misericórdia tem recebido apoio de entidades privadas?
Sem dúvida e ainda bem que a consciência social das empresas e instituições privadas se fazem com alguma regularidade, como foi o recente caso do apoio do Banco Santander, que com as obras de renovação da sua agência na cidade da Ribeira Grande ofereceu todo o mobiliário a esta Santa Casa, para além dos mencionados prémios a que nos temos habilitado.

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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