Artesanto de cariz religioso feito por Maria Paiva corre meio mundo

Capa que cobrirá o Senhor Santo Cristo em Montreal é feita por artesã micaelense a viver em Massachusetts

Maria Paiva é natural de Fajã de Baixo. Antigamente visitava frequentemente os Estados Unidos, país que sempre admirou. Há 21 anos, numa outra visita, um enfarte no seu marido fez com que optasse por ficar a viver na terra das oportunidades, conta: “Quando cheguei aqui o meu marido teve um enfarte, foi de tal maneira que não podíamos sair daqui e optamos por ficar. Ele teve de ser operado ao coração, esteve cinco meses no hospital e como tenho muita família aqui optei por ficar. Adoro estar aqui. Adoro este país. É um país de facilidades”. Vive agora em Dartmouth, Massachusetts, estado de Nova Inglaterra. Em São Miguel, era esteticista e depois de sair dos Açores ficou 17 anos sem cá vir.
“Criar algo sobre o Senhor Santo Cristo é uma honra para mim, um privilégio”, explica Maria, sobre a sua motivação para o seu artesanato e trabalho. Para além de expor artigos para venda, Maria faz também por encomenda, e muitas têm sido as solicitações de capas e bandeiras do Espírito Santo: “Eu tenho feito muitas capas. Já fiz oito grandes, para procissões, por exemplo para Cambridge, Flórida, Boston…”. Confeccionar e bordar estas grandes capas é um trabalho minucioso e trabalhoso, que leva cerca de quatro meses, por uma única capa, para concluir: “É tudo bordado a fio de ouro. Todos os desenhos nas minhas capas são feitos por mim. Desenho e faço tudo”, explica a artesã. “Também faço bandeiras do Divino Espírito Santo… faço de tudo. Já fiz muitas bandeiras, em grande e pequeno escala.” “Vendemos muito para pessoas aqui nos Estados Unidos, mas também temos muitas do Canadá. As pessoas com idade já estão a partir e os jovens não sabem fazer. Então, procuram as pessoas que sabem.” As bandeiras e capas chegam também aos Açores, sendo a artesã já muito conhecida em São Miguel.
Neste Domingo, a imagem do Senhor Santo Cristo da procissão em Montreal, no Canadá, vai abrigada numa capa feita por Maria, revela. “A capa leva a coroa do Espírito Santo desenhada atrás. É a primeira assim, e foi encomendada por uma senhora que está a fazer uma promessa, porque teve uma grande aflição na vida.” A capa foi oferecida por Ana e Alex Braga.
Os materiais utilizados são muito específicos, como fio de ouro encomendado em Espanha, sendo que nos Estados Unidos Maria não encontra os materiais de que precisa. Mas para outros artigos mais pequenos, a imaginação desta artesã permite-lhe reutilizar outros materiais: “Faço com jóias, botões. Faço com tudo o que encontro porque a nossa imaginação vai além de tudo.” Nas grandes festas da Nova Inglaterra, Maria expõe o seu trabalho dedicado a Santo Cristo.
Sempre teve muita fé no Senhor Santo Cristo dos Milagres, confessa, e a sua casa está repleta de imagens do Senhor. A artesã, que é também Directora da Solidariedade da Casa dos Açores de Nova Inglaterra, conta que este ano seguiu a procissão e as festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres pela televisão, não tendo conseguido vir pessoalmente. Mas um dos seus objectivos é vir para o próximo ano, fazer uma promessa, agradecer ao Senhor, e oferecer-lhe uma capa: “Este ano não vim para as festas, não pude, mas para o ano quero fazer a capa para o Senhor Santo Cristo, porque tenho uma promessa com ele e tenho de ir de joelhos, à volta do Campo. Infelizmente, o meu marido foi operado às costas, e quase perdeu as duas pernas e então não pude ir. Mas Deus fez um milagre, eu tenho tanta fé. Na minha casa é só fotografias do Senhor Santo Cristo. Nós quando saímos da ilha, a ilha vem connosco, principalmente a imagem do Senhor Santo Cristo. Para o ano irei de joelhos, não pagar, mas agradecer por tudo o que ele nos tem dado, principalmente a vida. O mundo anda tão terrível que temos de agradecer pela vida. Porque o melhor que nós temos é a vida. Vou agradecer tudo o que ele me tem dado.”

“São Miguel é a América em
ponto pequeno”

Questionada sobre se voltaria a morar nos Açores, Maria confessa que apesar de gostar da sua ilha, adora viver nos Estados Unidos: “Gosto muito da minha ilha. Eu digo que são Miguel é a América em ponto pequeno. A minha ilha está muito linda, mas eu adoro os Estados Unidos. Antes de ficar cá já tinha vindo 3 vezes. Adoro estar aqui e os meus filhos também. Acho que quando a gente emigra e está fora da nossa ilha durante muito tempo já não sabemos de onde somos, se somos daí ou se somos daqui. Vamos aí e queremos voltar para aqui. Se Estamos aqui, queremos voltar para os Açores. Mas adoro a minha ilha e a Fajã de Baixo.”
Apesar de adorar viver na América, reconhece as vantagens e a beleza de viver nos Açores: “Vocês têm um privilégio porque têm uma ilha e um mar maravilhoso, que não temos aqui, esse mar. Quando cheguei à ilha, ao fim de 17 anos, a primeira coisa que fiz foi ir à água. Dá um cheiro a sal, que aqui não há. A comida é diferente. É a melhor comida do mundo, a nossa. O mar, o peixe… é tudo diferente. É tudo melhor aí.”
Lá, tanto Maria Paiva como as grandes comunidades de açorianos emigrantes que vivem nos Estados Unidos e no Canadá, mantêm vivas as tradições religiosas açorianas. “Este ano tirei a primeira dominga de um clube, e tirei a segunda dominga de outro. Faço tudo, o altar com o Espírito Santo e tenho uma fotografia do Senhor Santo Cristo de 1949. Há muitos açorianos aqui, principalmente numa parte de Fall River. Basta fazermos as grandes festas do Divino Espirito Santo, que vemos tanta gente. E vêm daí para aqui também.” Também lá, partilham os antigos ofícios e artes: “Faço artesanato na Casa dos Açores. À Terça-feira tenho um grupo de senhoras a quem ensino a fazer coroas do Espírito Santo, bordar capas, tudo…”
A artesã mantém a residência no país onde adora viver, mas quando as saudades apertam, é grande a vontade de apanhar o avião e visitar a ilha, rever os amigos e a família.                         

Mariana Rovoredo

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Autor: CA

Categorias: Regional

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