O Presidente do Governo dos Açores, José Manuel Bolieiro, anunciou anteontem, na sessão de abertura do décimo nono concurso da raça Holstein Frísia, que, dos três mil que se candidataram, mais de 1.100 agricultores açorianos já têm o seu parcelário validado e reconhecido por parte das entidades nacionais e comunitárias.
Trata-se, segundo disse José Manuel Bolieiro, de “um ganho adquirido, uma vantagem na solução do rendimento e da sustentabilidade dos empresários agrícolas”.
O chefe do Executivo anunciou também que, a partir de Junho, e na medida do PRR, vão ser concedidos apoios a 100% para estudos a realizar pelos produtores relativamente às suas opções estratégicas de produção de riqueza. “Já tínhamos esta opção para as agro-indústrias que, aliás, estão em curso e que encerram a 31 de Junho".
Portanto, disse, “estamos nesta consistência governativa de políticas públicas, igualmente a garantir responsabilidade e corresponsabilidade nas decisões dos empresários da produção, nos empresários da transformação, nas políticas públicas de incentivo e apoio e, sobretudo, na minimização de custos de contexto na sua operação”.
Bolieiro realçou, por outro lado, que a par das melhorias em proteína e na gordura, “é verdade que a redução do leite ajudou a que a cadeia de valor recepcionasse a corresponsabilização de preços e rendimentos que a todos compete”.
Neste enquadramento, anunciou a entrada em vigor, a partir de Junho, de um novo programa de reconversão da cultura do leite em carne para as ilhas Terceira, São Miguel e Graciosa. Isto porque “também importa considerar a nossa geografia nesta orientação vocacional e de valorização da oferta na economia produtiva”.
Revelou, igualmente, que o Governo dos Açores terá condições de, a partir do mês que vem, de fazer os pagamentos compensadores da redução do leite aos produtores, “com isso garantindo que tenham a dita solvabilidade e apoio comprometido para esta estratégia”, revelou José Manuel Bolieiro.
Prosseguiu que, “no que diz respeito à minimização dos custos de contexto na produção”, o Governo está a intervir também na cadeia de abastecimento e na progressiva autonomia de alimento animal, incentivando os produtores e agricultores na compra de sementes, de milho e de sorgo para, com isso, termos menos dependência das importações ou de fornecimento alimentar externo para nossa opção estratégica”. Realçou, a propósito, que nesta utilização existem já mais mil hectares em produção “para garantir uma progressiva autonomia alimentar animal nos Açores”.
O Presidente do Governo fez uma outra reflexão à situação cíclica que, nas suas palavras, “infelizmente, de um risco de perda de rendimentos através da baixa de preços daquela que é uma crise que precisa de apoio público e que já mereceu da parte da União Europeia e do Estado português, de um apoio com o accionamento do fundo de crise da União Europeia para a reserva agrícola. Este fundo foi accionado o ano passado em mais de 500 milhões de euros. Portugal teve a parcela de 30 milhões de euros e foram entregue aos Açores 10% desta opção do accionamento desta reserva agrícola de crise”.
Este ano, prosseguiu, a União Europeia decidiu accionar apenas esta reserva agrícola para os países fronteiros e fronteiriços à Ucrânia, razão pela qual ficou Portugal excluído. Mas, a pedido do país, foi autorizada uma solução no valor de 137 milhões de euros de admissão de ajudas de Estado para o país inteiro. “É por isso”, afirmou o Presidente do Governo, que “é justo o que o senhor Presidente da Associação Agrícola aqui fez referência. O país é uno. Aliás, é uma das grandes questões da Constituição da República Portuguesa. Os portugueses são portugueses nos Açores, na Madeira e no Continente. Ora, estas medidas que têm esta evocação relativamente às opções de recurso ou de accionamento da reserva agrícola do fundo de crise ou de autorização europeia ao Estado para auxílios de Estado, tem de ser para todos”.
“Um Governo prestigia-se por ser justo, parta olhar a dimensão do seu território, do seu povo e da sua economia. Há injustiça, - reclamação. O silêncio não é opção. A reivindicação e o ajustamento desta medida injusta é uma imposição em nome da democracia, em nome da dignidade das instituições. Bem sei que há hoje uma enorme crise na qualidade das nossas instituições governativas, mas já basta aquela que é a crise da dignificação destas instituições. Não acrescentemos esta outra como injustiça de não tratar os portugueses e o país inteiro em medidas nacionais”, palavras de José Manuel Bolieiro
Sociedade deve valorizar mais
a Agricultura, defende Jorge Rita
O Presidente da Associação Agrícola de São Miguel, Jorge Rita, começou por se referir ao XIX Concurso da Raça Holstein Frísia, onde estão presentes 170 animais a concurso de 45 explorações. Como realça, estamos a falar “das melhores explorações a nível nacional sedeadas na Região”.
“O desígnio da Região que é a excelência está aqui bem patente no trabalho que os produtores fazem. Os nossos animais são de excelência”, salientou.
Deixou o recado de que a agricultura “não é devidamente valorizada por toda a sociedade pelo facto de que as pessoas não se apercebem, talvez, ou não comunicamos bem, esta situação, da importância que o agro-alimentar tem nos Açores, no dia a dia das famílias”.
Realçou “a escola que foi feita na produção leiteira, no ADN que está nos agricultores, gostar de trabalhar, gostar de fazer aquilo que se faz, gostar das vacas, gostar de produzir bem, gostar de produzir com qualidade”.
Em sua opinião, “todo este trabalho tem de ser valorizado, quer a nível do melhoramento dos preços pago ao produtor, naquilo que produzimos, desde do leite á carne, e às áreas de hortícolas, tudo o que é produção”.
“Não podemos estar a vender nem a nossa imagem, nem os nossos produtos num nível baixo. Temos de dar o salto pela qualidade que está assente naquilo que sabemos que é a nossa produção de excelência”, realçou
Reforçou, dirigindo-se ao Presidente do Governo, que “todo o investimento que é feito na agricultura tem sempre retorno. Não tenha receio, não tenha medo”.
Repetiu que “não há casamento mais perfeito, em termos económicos, do que aquele entre a agricultura com o turismo”. Os dois sectores, como realçou, “complementam-se e potenciam-se claramente”.
Deixou claro que a agricultura “tem um peso brutal na nossa economia. (…) Não há turismo na Região com uma agricultura falida”, sublinhou.
Rita: “O Senhor Presidente
da República vai ter que falar”
Jorge Rita manifestou a sua discordância “com a atitude do Governo da República, com o patrocínio do senhor Presidente da República, que quase sempre se preocupa com aquilo que não deve e raramente se preocupa com aquilo que deve”, no que se refere à concentração apenas no território continental das medidas do pacto nacional para a estabilização dos preços dos bens alimentares
“Sei que ninguém gosta de dizer nada ao senhor Presidente da República. É uma figura intocável a nível nacional, mas nós tocamos naqueles que são intocáveis. E como quem não se sente não é filho de boa gente, o senhor Presidente da República não pode, nem deve, estar indiferente a esta discriminação a nível nacional para com a Região Autónoma dos Açores em matéria das ajudas, permitidas por autorização da União Europeia, que estão alocadas pelo Governo da República, em exclusividade, aos agricultores no continente”, defendeu.
Na opinião de Jorge Rita, “o senhor Presidente da República vai ter que falar sobre este assunto dizendo que não pode aceitar esta discriminação para a Região Autónoma dos Açores”.
“Nós vamos continuar esta luta porque achamos que é uma discriminação. Sabemos que há já trabalho que está a ser feito nesta área na Assembleia da República. Temos que ir mais além. Se calhar temos de ir à União Europeia...”, referiu.
“Não é para tirar um centavo aos agricultores do continente. Queremos é que se aloque mais verbas nos 176 milhões que estão alocados à agricultura, para o gasóleo, combustíveis, e para as ajudas à vaca leiteira. São 185 euros por cada vaca leiteira e 36 euros por cada vaca aleitante”, anunciou.
Pediu aos representantes da ANIL – Associação de Industriais de Lacticínios, para se associarem a esta luta dos agricultores açorianos.
“O que é importante é que, nesta guerra, nesta batalha ou nesta luta a nível nacional, todos temos de estar imbuídos de um espírito verdadeiramente regional, independentemente das crenças e dos objectivos políticos de cada um. Este é o meu grande desafio para os próximos tempos”, concluiu.
Realçou, por outro lado, o que considerou “um problema gravíssimo que é a falta de mão-de-obra” no sector agrícola. “Não há mão-de-obra suficiente disponível para fazer este tipo de trabalho. Isto para além da questão do desânimo que as próprias indústrias vão incutindo nos produtores com estas baixas sucessivas do preço do leite”.
Depois de reconhecer que o leite subiu para patamares interessantes no último ano, realçou que as indústrias regionais “foram as últimas, com grande distância dos restantes, em fazer as subidas. Mas também nas descidas foram logo os primeiros. Também é mais fácil descer como sabemos. Para subir é que é um bocado mais complicado. E as nossas indústrias são muito arrastadas nas subidas mas muito rápidas nas descidas do preço do leite à produção. Não há quem os apanhe nas descidas porque eles descarrilam com muita facilidade quando é para descer o preço do leite”, completou o raciocínio.
Jovem Campeão foi da exploração da Sociedade Melosfarm
A vitela Campeã e Jovem Campeã que venceu anteontem à noite o XIX Concurso Micaelense da Raça Holstein Frísia, organizado pela Associação Agrícola de São Miguel, por decisão do juiz canadiano Thierry Jaton, foi um animal da exploração pecuária da Sociedade Melosfarm, Lda, das Feteiras.
Durante o concurso, que se prolongou até às zero horas, a novilha vice-Jovem Campeã foi um animal da exploração pecuária de Mário Fernando da Câmara Serpa, da Maia.
A vitela Campeão e Reserva Jovem Campeão é um animal da exploração pecuária de Maria Ascensão Melo Fonseca, das Feteira.
O melhor Conjunto Jovem foi o da exploração pecuária de Maria Ascensão Melo Fonseca e o segundo melhor Conjunto Jovem foi o da exploração pecuária dos irmãos Rita.
Pelas 14h30 de ontem realizou-se no Concurso Holstein Frisia um desfile e apresentação de bovinos de raças de carne e o concurso de vacas em lactação prossegue pelas 20 horas
Hoje, pelas 10h30, terá lugar a eleição dos melhores apresentadores Jovem e Adulto, seguindo-se o XV Concurso Juvenil Micaelense da Raça Holstein Frísia. Pelas 12h30, será feita a entrega de prémios do XV Concurso Juvenil Micaelense da Raça Holstein Frísia, a que se segue a entrega dos prémios do XIX Concurso Micaelense da Raça Holstein Frísia.
O Concurso termina com animação Equestre, o Grupo Folclórico de Santa Cecília e a Tia Maria de Nordeste.
Quem é o juíz do Concurso?
O juiz canadiano do XIX Concurso Micaelense da Raça Holstein Frisia, Thierry Jaton, é proprietário, em sociedade, da exploração Jaton & Gremion Farms, com prefixo provetaz. A exploração tem um efectivo de 360 animais dos quais 150 são vacas adultas. Em termos de classificação morfológica, a exploração possui 23 vacas classificadas de Excelente; 92 vacas Bom Mais; e 35 vacas com classificação de Muito Bom.
Em termos produtivos, a produção média aos 305 dias é de 11.950 Kg de leite com 4,1% de gordura e 3,4% de proteína. A exploração Jaton & Gremion é uma participante assídua em concursos tendo já recebido o título de All-Quebéc, All-Canadian e All American por diversas vezes.
Desde 1995 que Thierre Jaton é juiz oficial da Holstein Frísia. Nesta função já julgou a maioria dos concursos Holstein que se realizam na província do Quebéc. O concurso mais prestigiado que julgou foi o concurso nacional do Canadá, na Royal Winter Fair.
João Paz