A gradual subida de produção futebolística da equipa do Santa Clara foi, mais uma vez, confirmada na partida de sábado, ao início da tarde, com a vitória (1-0, golo de Andrezinho aos 27 minutos) sobre o Portimonense.
Chegou tarde. Muito tarde, ao ponto de não ter evitado a descida de divisão após o oitavo ano na Primeira Liga, o quinto consecutivo. Uma despromoção que estava talhada a acontecer, principalmente devido à fragmentação no grupo de jogadores e nunca conseguida desmontar para unificar por parte do treinador Mário Silva no período em que não teve por perto o braço direito Tiago Sousa. A proximidade foi de curta duração devido a fortes questões pessoais do treinador adjunto que lhe impossibilitaram de estar fora do local de residência. A estada junto da equipa aconteceu no melhor período da primeira volta. Foi quando o Santa Clara ganhou em Vizela, empatou em Chaves e em casa empatou com o FC Porto e ganhou ao Estoril, somando 8 pontos. O braço direito foi-se para Barcelos, diluindo-se o renascer do que em qualquer grupo é fundamental para o êxito: a união.
Não houve a mão firme do treinador e da administração quando sucederam casos de infracção ao regulamento interno. Agudizou-se a divisão, transportada para o campo com a falta de ambição e de coesão, acentuada no péssimo desempenho na Taça da Liga, somando 1 ponto em quatro jogos, três deles com equipas da Segunda Liga.
A vinda do treinador Jorge Simão até piorou. A voz de comando foi demasiado forte para um grupo desmoronado. Antes de sair tocou no ponto certo: “anda toda a gente descrente”. Estávamos a 25 de Fevereiro. Não teve o engenho para mudar o rumo e também não conseguiu o principal: a união.
A qualidade individual que caracteriza o grupo de jogadores não viabilizou a constituição de um colectivo forte. Uma equipa encolhida, nada ambiciosa, com jogos onde rematou muito pouco. E quando tudo corre mal, conjuga-se uma série de factores para que tudo corra mesmo mal. Golos na própria baliza, alguns inexplicáveis; falhas impensáveis aproveitadas pelos adversários para marcarem; bolas a tabelarem em alguém e a entrarem na baliza e uma ou outra arbitragem infeliz. A juntar a isso, a questão mental sobrepôs-se.
Mais 13 remates
do que na época passada
Até que Danildo Accioly, homem da casa, pegou na equipa como primeiro responsável. Não possuindo o nível IV, teve de chamar Luís Morgado, que já trabalhara com ele quando João Henriques por aqui esteve, porque possui o grau indispensável para treinar na Primeira Liga. Como é evidente ser o antigo defesa central o técnico principal, a Associação de Treinadores queixou-se. Accioly foi punido com 500€ e Luís Morgado, por ser conivente, pagou o mesmo valor.
Para a nova dupla e para quem os ajuda a prioridade foi reunir as tropas em redor do projecto, acabar com eventuais querelas, levantar o ânimo e procurar os pontos indispensáveis para poder sair da zona de descida. Não resultou de início. Os primeiros quatro jogos ditaram em derrotas, apesar de exibições convincentes com o Vizela (0-1) e com o FC Porto (1-2). Nos restantes cinco o Santa Clara somou 7 pontos, com duas vitórias e um empate. Nestes cinco jogos rematou por 61 vezes às balizas dos opositores.
Nos últimos cinco jogos da época passada até à penúltima jornada, o Santa Clara contabilizou 6 pontos de três empates e de uma vitória. Contudo, efectuou 48 remates. Uma diferença de 13 remates para esta época.
Enganados
A evolução é evidente, espelhada em exibições convincentes, mesmo com a derrota em Braga. A excepção foi a primeira parte com o Estoril.
A de sábado foi novamente exemplar, mesmo tendo em conta entrar em campo sabendo que estava na Segunda Liga. Sem pressão e dando seguimento aos últimos bons jogos, a equipa demonstrou quão estavam enganados aqueles que conjecturaram, sem sustentação, terem sido contratações, a maioria através de empréstimos, de jogadores sem qualidade para a Primeira Liga portuguesa. Engano. Há ali matéria com capacidade para dar muito mais, como vem demonstrando. Por isso se diz que o campeonato deveria ter começado em Abril.
Dez oportunidades de golo
O Santa Clara superou tudo o que tinha de superar na despedida, perante 635 indefectíveis adeptos, que, num gesto de enaltecer, aplaudiram os jogadores no final mesmo sabendo que ficaram aquém da valia que possuem, demonstrada nesta recta final.
O Portimonense teve mais posse de bola (60%), mas a forma como a equipa “encarnada” funcionou tacticamente, com pressão forte perto da área contrária, fez com que fosse totalmente manietado. Não criou uma única ocasião de golo e só rematou por duas vezes. Só o Paços de Ferreira, também na penúltima partida em casa do campeonato passado, havia rematado por duas vezes (perdeu por 2-0).
O Santa Clara rematou sábado por 21 vezes, criando 10 oportunidades claras de golo, mas só marcou um. Foi o jogo em que mais rematou. Nos jogos anteriores em casa, ante o Chaves e o Gil Vicente, já havia rematado bastante: 19 em cada encontro.
Numa introspecção de quem jogou, de quem treinou e de quem dirigiu, facilmente concluiu haver capacidade mais do que suficiente para não descer, se não fossem os obstáculos desempeçados.
Foto: “Henrique Barreira”