Apesar de a dada altura ter pintado retratos, a pintura sobre a natureza e as suas criaturas é o que realmente a cativa. A sua preferência é a pintura em óleo sobre tela, e os insectos e animais marinhos que geralmente causam “repulsa” são agora os objectos das pinturas de Maria, que gosta de sentir “empatia por toda e qualquer criatura”, principalmente por aquelas que geralmente não são as favoritas das pessoas.
“Já não tenho interesse em pintar pessoas, é tudo mais natural e o meu interesse principal são os insectos. É o que pretendo continuar a pintar.”
Questionada sobre o porquê desta ser a fonte da sua inspiração, a jovem sente que não é possível definir: “Há muitas explicações para isso. Não consigo responder a 100%. Também é por isso que uma pessoa pinta, porque não consegue explicar as coisas por palavras. Acho que é porque gosto de sentir empatia por toda e qualquer criatura, principalmente por aquelas que geralmente geram repulsa. Dão-me vontade de as tentar entender. Insectos, e muitos dos animais marinhos que eu gosto, que são bizarros e que geralmente geram repulsa na maioria das pessoas..., portanto eu gosto de tentar criar o oposto em mim, mesmo que, inicialmente, aquilo que eu sinta também seja repulsa.”
“Associo certos insectos a certas pessoas e emoções”
Outra das razões é o facto de os insectos terem um “valor nostálgico” para a artista, pois remetem-na para a sua infância nos Açores: “Passei imenso tempo da minha infância a brincar com insectos, portanto, tem todo um valor nostálgico. Mesmo nos Açores sinto muito que em criança havia muitos mais insectos do que os que eu vejo hoje em dia, principalmente borboletas. Sinto uma enorme diferença e tenho 21 anos”, explica Maria, consciente da existência de ameaças ao ambiente e à biodiversidade: “Falamos sobre a biodiversidade estar a diminuir, mas ninguém está muito importado com espécies feias. Ninguém quer propriamente saber dos insectos. É um pouco por aí.”
Sendo que a arte diz sempre algo sobre o seu criador, é também assim com as pinturas de Maria Melo: “Vão sempre dizer alguma coisa sobre mim. Algumas mais directamente do que outras. Associo certos insectos a certas pessoas e a certas emoções. Neste momento estou a fazer várias coisas, mas o meu projecto principal são três quadros: um bicho da conta, uma traça e uma centopeia, e para mim esses três insectos são três pessoas na minha vida, sendo que o bicho da conta sou eu”
“Não me identifico com nenhum
movimento ou estilo”
“Inspiro-me em certos artistas, mas não me identifico com nenhum movimento ou estilo”, expressa a jovem, cuja arte surge intuitiva e naturalmente. No que toca às suas referências, que vêm de todas as áreas, neste momento, Maria confessa ter especial interesse em Ernst Haeckel, naturalista do século XIX, “que era mais cientista do que artista e que misturava a biologia com a arte”. Por sua vez, nas artes plásticas, um dos seus preferidos, “senão o preferido”, é o escultor David Altmejd, que cria esculturas muito detalhadas de humanos e animais.
Desde pequena em contacto com música, desenho e teatro, Maria começou a pintar com mais frequência aos 12 anos, conta, e aos 13 anos decidiu que queria seguir Artes: “Foi muito natural.” No curso de Belas Artes, o primeiro ano é dedicado às artes plásticas, sendo que só depois os alunos podem escolher entre as especialidades de pintura, escultura ou multimédia, explica. “Ainda houve um momento em que estive bastante indecisa entre escultura e pintura”, confessa, “para mim foi tudo intuitivo e natural.” No que toca à música, Maria toca arpa, piano, e um pouco de guitarra. No Porto, a artista tem também oportunidade de explorar o teatro amador: “Foi algo com o qual cresci um pouco, a fazer workshops para crianças. Estando no Porto, como tive essa possibilidade, também comecei a fazê-lo. Tenho uma peça que vai estrear agora, dia 2.”
Para já, a artista já expôs no Faial, no Centro de Artesanato do Capelo, e no Banco de Artistas, durante uma edição da Semana do Mar. Segue-se agora a exposição final da licenciatura, sendo que está a preparar os quadros sobre já referidos três insectos, cada um representando alguém da vida da artista. No futuro gostava de expor também pelo continente.
Sobre os planos para o futuro, Maria pretende fazer voluntariado quando acabar o curso e a partir daí ir descobrindo... “Acho que preferia ficar a fazer trabalho relacionado sempre com cultura, mas provavelmente em comunidades pequenas e um pouco alternativas. Ou eventualmente voltar para os Açores, desde que saiba que consigo fazer algo que gosto. Mas quero sempre poder fazer arte, mesmo que essa não seja a minha fonte principal de rendimento.”
O objectivo da faialense será continuar a trabalhar nas artes, “não necessariamente só na pintura, mas no geral”. “Faço muitas coisas artísticas”.
Quem sabe que oportunidades o futuro reserva para esta talentosa e jovem artista...
Mariana Rovoredo