Após um período de interrupção de mais de uma década, a Casa do Povo dos Fenais da Ajuda anuncia o regresso das festas em honra do Divino Espírito Santo do Império de Pentecostes. Amanhã (Domingo), a coroa e a bandeira serão levadas à igreja paroquial, e as crianças que frequentam o ATL da freguesia terão a oportunidade de coroar no final da eucaristia. Além da coroação, a programação inclui o tradicional momento de tirar as sortes, bem como as antigas sopas do Espírito Santo, que serão confeccionadas pela Casa do Povo. Jonas Carreiro, Presidente da Casa do Povo dos Fenais da Ajuda, afirma que o retomar dessas festividades tem como objectivo celebrar o Divino Espírito Santo e envolver a comunidade local, que se mostra muito receptiva.
Correio dos Açores - Por que motivo a Casa do Povo decidiu retomar as festas em honra do Divino Espírito Santo após anos de interrupção?
Jonas Carreiro (Presidente Casa do Povo dos Fenais da Ajuda) - Decidimos retomar porque, desde já, é uma tradição local que faz parte da identidade açoriana. Como tínhamos a bandeira e a coroa do Império de Pentecostes, era quase como uma obrigação retomarmos esta tradição tão tipicamente açoriana. Este ano, de uma forma simbólica, estamos a recomeçar com estas festividades.
Todos os impérios em honra do Divino Espírito Santo são muito importantes, nomeadamente Trindade, São João, São Pedro e temos todos estes impérios na freguesia. Mas o Pentecostes, que é comemorado no dia da Região por ser também o Dia do Divino Espírito Santo, assume uma importância gigantesca, não só nos Fenais da Ajuda mas em toda a Região, pelo que tem uma pertinência maior. Quando se deixou de realizar houve um choque cultural e religioso muito grande. Houve revolta e contestação na altura, mas à data de hoje as pazes estão feitas.
Que razões se encontram por trás da interrupção das festas?
Creio que a interrupção das festividades esteve relacionada, de certa forma, com alguma desmotivação da organização interna, talvez por pouca mobilização. Quando estamos muito tempo à frente de algo, é normal que haja algum tipo de desgaste e desmotivação. Além disso, não havendo uma rede de apoio à volta, o cenário piora.
Como a comunidade local tem reagido ao regresso das festas? Há entusiasmo? As pessoas têm participado?
As pessoas têm reagido muito bem. Pensávamos que íamos ter algumas pessoas reticentes porque, quando se deixou de fazer as festas, houve vários atritos entre a Casa do Povo e alguns habitantes. No entanto, estamos a ter um feedback muito positivo.
As pessoas estão muito contentes e agradecem-nos esta viragem de página. Está a ser muito positivo tanto para nós, enquanto instituição, como para a comunidade que já não via isso acontecer há muito tempo.
Quais são as principais actividades planeadas para as festas deste ano?
Este ano vamos fazer algo muito simbólico. A Casa do Povo, através dos idosos e das crianças do ATL, vai dinamizar algumas actividades alusivas ao culto do Divino Espírito Santo, com o intuito de educar no que concerne à parte religiosa e cultural, e todo o processo histórico que envolve este culto.
Este ano vamos tirar as tradicionais sortes das sete Domingas. O centro de convívio fica com a primeira Dominga e a sétima Dominga também não vai a sortes porque, no próximo ano, a Casa do Povo vai ser o mordomo. Vamos sortear apenas da segunda à sexta Dominga. Já temos alguns inscritos para as sortes, cerca de dezena e meia que decorrerão às 11h de Domingo, dia 28 de Maio. Às 11h30, vamos oferecer as tradicionais sopas confeccionadas pela instituição. Este ano vai ser muito restrito e destinar-se-á apenas à comunidade da instituição, ou seja, os utentes do centro de convívio e do CATL, juntamente com as suas famílias e entidades locais, desde o clube, junta de freguesia, outras mordomias, representantes da igreja, filarmónica. Vamos convidar todas as instituições locais de modo a que haja alguma envolvência. O intuito é a partilha das necessidades e dos anseios de cada um, para que possamos articular todo o trabalho e logística para o próximo ano.
Vamos fazer uma pequena procissão desde a Casa do Povo até à igreja e haverá a coroação. Está tudo organizado juntamente com o pároco local. No final da eucaristia, haverá a coroação com todas as crianças que vão participar no cortejo. Depois, teremos um cortejo inverso, o qual levará a Coroa ao sítio onde vai permanecer até à primeira Dominga, designadamente no centro de convívio de idosos.
Este ano o programa será reduzido. Para o ano vamos elaborar um programa de dois a três dias, onde haverá tudo o que envolve o Divino Espírito Santo.
A coroação será exclusiva para as crianças que frequentam o ATL?
Não vamos negar uma coroação. Quem quiser participar e ser coroado, poderá fazê-lo.
A ideia é que esta seja uma festa da comunidade e para a comunidade da freguesia. Este ano é muito restrito porque estamos a recomeçar, além de que havia algumas reticências com a aceitação deste regresso. Mas, antes pelo contrário, está a ter uma óptima receptividade e as coisas estão a correr muito bem.
Como serão tiradas as sortes durante as festas? Existe algum ritual específico associado a esse processo?
Colocamos num pote todos os nomes das pessoas que querem tirar as sortes. Noutro pote colocamos o número das Domingas e um papel com a sorte cortada. A sorte cortada significa que a pessoa não tem direito a ficar com a Dominga e normalmente há um valor associado. Todavia, este ano, não vamos atribuir nenhum valor à sorte cortada. Quando sai uma Dominga, lançamos um foguete por ser sinónimo de festa e porque a pessoa fica extremamente feliz por receber o Divino Espírito Santo durante aquela semana.
Qual é a importância cultural e histórica das festas em honra do Divino Espírito Santo para a freguesia dos Fenais da Ajuda?
A importância para os Fenais da Ajuda é a mesma de todas as freguesias da ilha. A devoção ao Divino, o agradecer, a simbologia de podermos pedir ou agradecer algo, a tradição de venerar a Coroa e a Bandeira, ouvir o hino do Espírito Santo. Poucos são aqueles que não se emocionam a ouvir o hino. Todo esse pragmatismo, simbolismo e emoção não têm preço.
A envolvência da comunidade, o espírito de entreajuda e partilha, que vai desde partilhar a receita das sopas a passar esta mensagem e herança às nossas crianças. Queremos incutir todo este cariz pedagógico nas crianças, até porque nenhuma das crianças do ATL assistiu a este império a ser realizado. Tudo isto é muito importante para a comunidade dos Fenais da Ajuda.
Além disso, valorizar as nossas tradições é fundamental e esta é uma tradição açoriana muito genuína. Como estamos inactivos há alguns anos, considero que se reveste de uma importância extra. Era elementar que fizéssemos este império renascer.
Carlota Pimentel