1- Temos vindo ao longo deste ano a acompanhar o que se passa pelo mundo fora tendo em conta que estamos ligados em rede, para o bem e para o mal, consequência da globalização, que se tornou num processo de aprofundamento internacional da política e que incorporou a economia social e cultural, estimulada pela redução de custos de produção nos países emergentes, devido à exploração da mão-de-obra e, depois, pelas economias de escala, com destaque para os meios de transporte e comunicação dos países, já no final do século XX e início do do século XXI, colocando-nos no período pós-modernidade.
2- Trata-se da maior mudança da história da economia nos últimos 40 anos, embora vários estudiosos considerem a origem da globalização nos chamados tempos modernos, enquanto outros apontam a sua história muito antes da era das descobertas e das viagens ao Novo Mundo levadas a cabo pelos europeus.
3- O termo “globalização” passou a usar-se de forma crescente desde meados da década de 1980 e com mais amplitude a partir de 1990. No ano 2000, o Fundo Monetário Internacional definiu como elementos base da globalização: o comércio e transacções financeiras, movimentos de capital e de investimento, migração e movimento de pessoas, assim como a difusão de conhecimento, onde os países relevantes se integram para dar força ao capital transnacional. Foram depois acrescentados aos elementos base da globalização os desafios ambientais, a mudança climática, a poluição do ar e o excesso de pesca nos oceanos. Esta é a cartilha da globalização.
4- Esta evolução coloca-nos um grande problema que é: o futuro incerto da humanidade. O retrato que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico publicou no recente estudo que divulgou sobre Portugal mostra que os jovens com idades entre os 18 e os 29 anos manifestam taxas de sofrimento psicológico de “moderado a grave” e com sintomas de depressão 50% acima da generalidade da população.
5- Para este cenário, o Relatório aponta como razões a Covid-19 e os confinamentos que ela obrigou, as baixas taxas de exercício físico, o consumo de álcool e a obesidade é tida como um dos “principais factores” para a mortalidade em Portugal. A estes casos juntam-se as “preocupações com o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal, a insegurança relativa ao emprego e ao rendimento e a consequente perda do apoio social.
6- Isto é, estamos numa encruzilhada que não se sabe como dela sair, porque, de um lado temos os jovens com altas taxas de sofrimento psicológico resultantes em parte da pandemia, mas que se prolonga pelo excesso de uso das redes virtuais, provocando o absentismo quanto ao convívio humano e aos deveres próprios no que toca à educação e ao ensino. Daí passa para o uso das drogas para suprir o isolamento e criar o imaginário.
7- Mas o pior ainda é ver-se os vários poderes que compõem a sociedade preocupados com o seu próprio umbigo, sem olharem para o umbigo das várias gerações que são a razão da existência desses e encontrar formas de aproveitar as qualidades individuais e transformar os sonhos que vão tendo muitos deles, culpados pelo sofrimento psicológico de cada um, em verdadeiras realidades.
8- A vida e a arte são parceiras na amarga missão de discutir os conflitos da humanidade perante as tecnologias e os novos conhecimentos científicos. Esta é uma tarefa que exige, de facto, muita arte e conhecimento para descrever os benefícios e os malefícios num confronto que junta duas peças de um importante xadrez – a Humanidade e as tecnologias.
9- É tempo de se fazer o balanço onde estamos e para onde queremos levar a Humanidade.
10- Será que temos objectivamente controlo do crescimento e do poder da tecnologia, ou a Humanidade perdeu esse controlo que devia ter sobre ela, por falta da existência de limites?
11- Se a globalização e os Estados não tomarem as rédeas, caminhamos velozmente para um futuro incerto quanto à Humanidade e todos quantos deviam fazer o que lhe competia e se não o fizerem serão os “carrascos”.
Américo Natalino Viveiros