De quando em vez, assiste-se ao renascimento, ao que já é sobejamente conhecido, ancestralmente, de “bairrismo”.
Que alguém mais esclarecido acrescentou de “bacoco”.
Não há como não só subscrever, como sublinhar.
Os Açores são nove ilhas dispersas, onde os supostamente mais avisados, afirmam ser uma desvantagem, mas os que resistem e bravamente bradam por uns Açores Sempre Unidos e Coerentes rejeitam e, ao invés, defendem, com denodo, ser uma enorme vantagem.
Tal como o País Irmão de Cabo de Verde constituído por dez torrões na imensidão do oceano, mas que tem dado prova e exemplos de ser uma grande Nação na senda do progresso e desenvolvimento sustentável, embora as adversidades climatéricas serem muito superiores às dos Açores.
Paradoxalmente, ou talvez não, sempre que se assiste a uma mais acentuada centralidade dos poderes da República, ou ao não cumprimento de responsabilidades financeiras por parte desta em relação à sua Região Autónoma, os diversos interesses situados nas principais ilhas, começam uma luta baseada no já velho e caduco princípio “ a ilha A está a ser preterida em relação à ilha B”.
Historicamente têm protagonizado tal “folhetim” as ilhas Terceira e S. Miguel.
Foi a Ilha Terceira, nomeadamente a sua cidade de Angra, desde o povoamento até ao século XIX, a ser considerada a capital dos Açores.
Nela esteve situada a Capitania Geral, até à institucionalização e divisão dos Açores em Distritos.
A própria Igreja Católica escolheu a Terceira e a sua cidade de Angra para sede do seu Apostolado, assumindo a respectiva Diocese o nome de Angra e não dos Açores, até aos dias de hoje.
Os Açores têm de tirar vantagens da sua zona económica exclusiva de quase 1.000 Km2.
Como vários analistas têm afirmado tal posicionamento torna-os uma potência oceânica.
Os avanços tecnológicos têm vindo a confirmar o potencial do mar imenso que os rodeia.
São eles que dão profundidade atlântica, não só a Portugal como à Europa.
A digitalização e a nova globalização estão a por a descoberto as potencialidades dos Açores, que já começam a ser cobiçados por grandes potentados económicos internacionais.
Este novo paradigma tem de levar os açorianos a aumentarem a auto - estima e a pugnarem por uma maior unidade, e não se resignarem em serem apenas uma grande autarquia da metrópole centralista.
Ao contrário do que possa parecer tem – se vindo a assistir ao surgimento duma nova geração.
Muitos são jovens açorianos, assim como muitos outros que têm vindo a escolher os Açores para viverem.
Todos com pensamento crítico, que se têm apercebido das vantagens comparativas existentes.
Tal como no passado, sabem que é nos momentos de crise que surgem novas oportunidades
A “marca Açores” tem de se tornar um desígnio colectivo e não apenas duma elite, como vem acontecendo desde o povoamento.
Abandonar o fatalismo e entrar na locomotiva da esperança.
A educação, o conhecimento crítico, os saberes, devem estar ao alcance de todos.
Citando um célebre açoriano, conhecido pela sua tenaz vontade e espírito vencedor:
“Urge que os açorianos partam do mesmo patamar e em igualdade de oportunidades, mas que no ponto de chegada, todos se sintam dignos, embora desempenhando tarefas diferentes de acordo com os talentos de cada qual”.
E aqui reside a chave do sucesso dum povo. Nos nossos dias temos exemplos.
Para além do já citado Povo de Cabo Verde, podemos, igualmente, referir os islandeses e a sua profunda gesta lutadora.
Todo este optimismo para ser concretizado requer novas formas inovadoras de organização política e administrativa.
Não é com afirmações, como as que recentemente têm sido proferidas, por alguns ministros de Portugal, que vamos lá.
Dizem-se democratas, embora façam mais lembrar posturas de algumas figuras do Estado Novo. Eram centralistas porque era essa a natureza do regime ditatorial, corporativo e nacionalista.
Há que substituir a luta barrista fratricida por uma cidadania activa.
Se em futuras eleições a abstenção voltar a ganhar, perde a democracia e a liberdade.
Ganham os centralistas. Que como se tem vindo a constatar, não estão só nos extremismos autoritários, mas igualmente nos que se dizem democratas e liberais.
Poder-se-ão elaborar planos e orçamentos, que cada conjuntura exige, mas se não existir um enquadramento político estrutural onde as grandes decisões estratégicas fiquem a salvo de constrangimentos terceiros, os Açores continuarão o seu rumo de subserviência colonial, que como se sabe estará sempre subordinado aos “superiores interesses da Mãe-Pátria”.
Termina-se citando dois insignes Açoreanos, que divergiram no tempo e no modo, mas convergiriam na seguinte exclamação:
AÇORES – Só Unidos Vencerão!
“...E passados 46 anos também são muitos os que a nível nacional têm a ideia de que os Açores são uma possessão de Portugal. Esta ideia ainda persiste na mente de muitos e não podemos deixar que isso aconteça…”. (João Mota Amaral)
“Ter cuidado antes de dar o próximo passo, não significa parar de sonhar ou seguir em frente, mas pisar com firmeza para não voltar.” (José de Almeida)
António Benjamim