29 de agosto de 2023

Apontamentos de verão

Estamos em pleno verão, com turistas aos magotes, pululando por essas freguesias, cidades e vilas destes Açores, atraídos pelas belezas luxuriantes das nossas ilhas de bruma e deslumbrados pela prodigalidade dos cenários que a mãe-natureza pinta em cada recanto.
No entanto, ainda falta vagar para avaliar o resultado das enchentes que nos demandam, sem que tenhamos um serviço que corresponda eficazmente àquilo que são as necessidades dos turistas, sobretudo ao nível da restauração, já que temos bons alojamentos hoteleiros que respondem com dignidade e conforto. 
Nesta azáfama, ss empresários da restauração queixam-se da falta de pessoal para trabalhar, dada a escassez de mão-de-obra para responder pronta e eficazmente aos clientes que procuram os restaurantes. Se, por um lado, os trabalhadores culpam os baixos salários, que afastam quem estudou para a profissão, por outro, a carga horária excessiva e com horário repartido, tira bastante tempo de descanso, sobretudo aos jovens que não querem perder o convívio com os amigos, mormente à sexta-feira e ao sábado à noite. 
Argumenta-se que trabalhar aos fins de semana e feriados, com horários repartidos, muitas vezes só com uma folga semanal, e por pouco mais do que o salário mínimo, não é atrativo, dado que a carga horária satura a prestação de serviços aos fins de semana, levando-os à procura de outras oportunidades.
É certo, que há falta de mão-de-obra, não apenas na construção civil, em que se regista uma debandada geral de trabalhadores para outros países europeus, onde os salários são bastantes atrativos, pelo que lá saem eles da nossa Região por temporadas e até vêm em férias, gozar o merecido descanso. Na restauração a falta de empregados é muito notória, pelo que o resultado é a sobrecarga nos que teimam em ficar no sector e são aqueles abraçam a hotelaria como uma missão, gostam e sentem-se realizados com o que fazem.
No entanto, neste período de verão, em que se registam mais turistas e, portanto, muito mais trabalho para a restauração, tive experiências que me levaram a questionar, a mim próprio, qual o futuro deste sector, mormente no que diz respeito ao atendimento do cliente, em que os empregados, exaustos e sem descanso, tentam esboçar uns sorrisos, sem conseguirem agradar cabalmente os comensais, que têm de ter a paciência para compreender o que se está a passar na restauração em geral.
Um dos proprietários da restauração confidenciou-me que a falta de empregados é tão clamorosa que tem acontecido que se contrata um trabalhador que inicia o seu turno de manhã e já não volta à tarde, alegando como motivos o facto de não se adaptarem a este tipo de trabalho, em que os clientes têm de ser servidos rapidamente ou então o horário incompatível com o descanso, visto que não querem trabalhar ao fim de semana, ou seja qualquer motivo é razão para faltar.
Uma das soluções é recorrer aos familiares para colmatar a falta de mão de obra disponível e há até jovens com cursos universitários, que trabalham noutras áreas e têm de ajudar o negócio familiar, avançando para o serviço de mesa e bar. Há poucos anos atrás, antes deste boom turístico, era fácil encontrar quem quisesse trabalhar e as escolas profissionais deram uma boa ajuda na qualificação do pessoal, já que era uma área bastante carenciada de mão de obra qualificada.
Por outro lado, tem acontecido situações em que, se um turista quiser, por exemplo, jantar e provar as nossas iguarias, tem de fazer a respetiva encomenda até às dezanove horas, porquanto, a partir de então, não se aceitam clientes para a ceia. Trata-se de situações bastante caricatas que sucedem e temos que refletir nestas ocorrências se quisermos tratar bem os turistas e eles levarem na sua bagagem não apenas as boas recordações das nossas bonitas paisagens, mas a forma como foram acolhidos nos alojamentos e no acesso à nossa gastronomia.
Trata-se de um problema que não é fácil resolver, mas uma possível solução poderá passar pela imigração de trabalhadores qualificados para esta área. Fomos um país de emigração durante de anos, agora acontece o oposto, porque estamos numa situação em que as pessoas de outras nacionalidades mostram vontade de vir para cá para terem melhores condições de vida. 
Enquanto não se encontrar uma solução, iremos ouvindo falar em episódios que em nada dignificam o sector da restauração. Bom verão.
António Pedro Costa

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Autor: CA

Categorias: Opinião

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