Petição considerada “pertinente” por deputados do Parlamento dos Açores defende valorização dos Ajudantes de Educação e horário de 35 horas

 O  Presidente  da  União  Regional  das  Instituições  Particulares  de  Solidariedade  Social  dos Açores,  João Canedo Reis, anunciou que, das 31 respostas que recebeu,  existem na Região dezassete instituições a praticar horários de Ajudantes de Educação de  39 horas;  oito instituições que praticam horários  de 35 horas e de 39 horas;  e três que praticam horários de apenas 35 horas semanais.
Acrescentou que há  ainda  instituições  que  praticam  outros  horários  como, por  exemplo,  algumas  que  praticam  horários  de  36  horas  semanais  e  outras  de  38  horas  semanais.
João Canedo Reis referiu que em 2018 um Ajudante de Educação de terceira categoria (a mais baixa categoria) recebia 609 euros por mês em 2018 e que este ano recebe cerca de 803 euros por mês. 
Disse que esta progressão salarial desde 2018  é resultado de um  trabalho  de  negociação  entre  a  URIPSSA  e  os  Sindicatos,  “mas  a  redução  da  carga horária nunca esteve em negociação, nem sequer foi tida por qualquer Sindicato, com  excepção  do SINTAP  que abordou  o assunto  numa  primeira  reunião, mas  que acabou  por retirar esta exigência”.
João Canedo Reis respondia a questões de deputados da Comissão  Permanente  de  Política  Geral da Assembleia Legislativa Regional, a propósito de uma petição subscrita por 580 assinaturas elegíveis, tendo  como  primeira  subscritora,  Rosália  da  Conceição  da  Silva  Pais.
A petição intitula-se “Pela IGUALDADE  no  trabalho,  35  horas para todos os Ajudantes de Educação dos Açores”.
 A petição teve por objectivo “alertar para degradação  profissional dos Ajudantes de Educação e pedir a implementação de um horário de 35  horas semanais para todos”.  
Segundo os peticionários, os  Ajudantes  de  Educação  “têm -se  deparado  com  uma  constante  desvalorização  económica  e  social  do  seu  trabalho”.   Referem os peticionários que “temos  cada  vez  mais um país de ordenados mínimos onde todos ganham o mesmo independentemente  das  suas  categorias  profissionais  ou  do  tempo  de  serviço”. 
Refere-se ainda na petição que “o cansaço excessivo  diário,  independentemente  da motivação  afecta  o  rendimento do  trabalhador  do  ponto  de vista  profissional e  familiar.  Ao longo  dos  anos , a  saúde  dos  Ajudantes de Educação vai-se deteriorando de forma evidente, fazendo com que muitos  deixem de poder trabalhar com bebés ou venham mesmo a abandonar a sua profissão  precocemente”.
Criticam a “ideia preconcebida de que os Ajudantes de Educação  até ganham bem para o que  fazem”. E descrevem que o trabalho dos Ajudantes de Educação, além do brincar educativo, passa por cuidados  variados como a alimentação, higiene, saúde, a segurança, pelo apoio e participação  nas  actividades  educativas,  pelas  relações‐públicas  com  os  pais  e  familiares,  pelo  comprimento da rotina estabelecida, etc.”
Acrescentam os peticionários que  “o trabalho desenvolvido pelos Ajudantes de  Educação é vital para o bom funcionamento das creches, jardins de infância e dos ATL.  São  com  estes  funcionários  que  as  crianças  passam  a  maior  parte  do  seu  tempo  ao  longo do dia”
 Realçam que,  “infelizmente a  maioria  dos  pais  não  tem  noção  de  quanto é exigente e  desgastante  trabalhar  7h48  minutos  por  dia  com  10  bebés,  com  12  crianças  na  sala  de um  ano,  com  16  crianças  numa sala de dois anos, com 25 crianças numa sala de jardim ou mais num espaço de  ATL. Algumas destas crianças podem apresentar necessidades educativas especiais”.   
“Os  Ajudantes  de  Educação  gostam  do  que  fazem  e  fazem‐no  com  brio, mas  infelizmente sentem‐se cansados e desmotivados pela  fraca valorização profissional e  social”, completam. Defendem que o horário de trabalho de 35 horas semanais seja uniforme para todos os ajudantes de Educação. 
Consideram que “é  fundamental  valorizar  os  Ajudantes  de  Educação,  que  trabalham,  com  o  maior  bem  deste mundo” e que, por isto, “merecem mais respeito e melhores condições de trabalho!”  J.P.
 

Instituições dizem que não têm meios financeiros
para contratar mais Ajudantes de Educação

A Comissão de Política Geral da Assembleia Legislativa Regional concluiu que “as  pretensões  espelhadas  na  petição  em  apreço  surgem  na  sequência  da  diferenciação  existente  na  carga  horária  entre  profissionais  de  Ajudantes  de  Educação, uma vez que existem Ajudantes de Educação a praticar horários de  35 horas semanais e outras a praticar horários de 39 horas semanais”.
A  União  Regional  das  Misericórdias  dos  Açores  (URMA)  entende, a propósito,  que  “a  diferenciação de horários na mesma instituição poderá criar algum incómodo e  sentimento  de  injustiça,  mas  que  as  instituições  não  têm  a  capacidade financeira necessária para aceder a esta reivindicação que, apesar de legítimas,  poderá contribuir para o agravamento de diferenciações e discriminações, em vez  de  contribuir  para  coincidir  com  a  carga  horária  de  outros  grupos  de  profissionais dentro destas instituições”.
A  União  Regional  das  Instituições  Particulares  de  Solidariedade  Social  dos  Açores  (URIPSSA), no debate em Comissão Parlamentar,  “compreendeu que  as  instituições  têm  autonomia  própria  na  definição  dos  seus  horários  com  o  devido  equilíbrio  financeiro,  apesar  dos  esforços  para  que  todos  tenham  a  mesma  carga  horária  e  que  sejam  compatíveis  com  outros  profissionais,  nomeadamente  os  auxiliares  de  apoio  idosos, agentes de Lar, Centro de Dia ou Apoio Domiciliário”.
A  UGT/Açores  considera  que  “a  redução  da  carga  horária  semanal  deve acontecer para todos os profissionais destas instituições e não apenas para as Ajudantes de Educação, por forma a não criar mais injustiças e que tem havido  uma  diminuição  gradual  do  número  de  horas  de  trabalho  para  estes  profissionais”.  
A  CGTP‐IN/Açores  considera, por sua vez,  que  esta  prática  de  horários  diferentes  “faz  com  que  haja  desmotivação  e  descontentamento  por  parte  dos  profissionais  que  laboram mais horas, levando a prejuízos pessoais de saúde. A redução da carga  horária  reivindicada  resultará  numa  melhor  qualidade  do  serviço  prestado  e  com profissionais mais motivados e empenhados”.
O Vice-Presidente do Governo, Artur Lima, foi ouvido em Comissão e ficou claro que o Executivo açoriano “não  interfere  em  matéria  laboral,  uma  vez  que  as instituições têm autonomia própria para definir o seu quadro de pessoal, desde  sejam  cumpridos  os  rácios  mínimos  definidos  na  legislação  e  regulada  pela  Convenção Coletiva de Trabalho, e que esta resposta social é financiada através  de um valor padrão, com um investimento de cerca de 91 milhões de euros”
De  modo  genérico,  os  deputados  que  integram  a  presente  Comissão  “revelaram‐se  esclarecidos  à  pretensão  plasmada  na  presente  Petição,  reconhecendo  a  sua  pertinência”. J.P.
  
 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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