EDA teve um lucro de 12,2 milhões de euros em 2022 e investiu no mesmo período 46,1 milhões de euros

O resultado líquido da EDA situou-se o ano passado nos 12,2 milhões de euros, 3,4% inferior ao resultado líquido do ano anterior, apesar do volume de negócios ter atingido o valor mais elevado da história da EDA, com 257,3 milhões de euros, ou seja, mais 21,2% face ao ano anterior, revelou a empresa.
 “Esta redução do resultado líquidos da EDA é justificada, principalmente, pelo agravamento dos gastos financeiros, em 1,3 milhões de euros, na sequência do aumento das taxas de juro, e pelo aumento de custos não reconhecidos pela entidade reguladora que se estima em cerca de 2,9 milhões de euros”., refere a empresa para acrescentar que, “atendendo à conjuntura que se viveu em 2022, foi mantido um controlo rigoroso dos custos”.
 “A contenção da evolução dos gastos com o pessoal na EDA, que aumentaram apenas 1,3% em 2022, apesar do aumento salarial médio de 3,51% efectuado no ano”, foi outra das preocupações da EDA.
 Esta evolução dos gastos com pessoal “apenas foi possível através da redução e diferimento de novas contratações, procurando sempre outras soluções de racionalização e melhoria da eficiência”.
Contudo, segundo a empresa, “subsiste a necessidade de assegurar o rejuvenescimento e ajustamento do quadro de pessoal, tendo sempre em consideração os ganhos de eficiência que podem ser alcançados com a digitalização crescente das actividades operacionais e de suporte”.
No Relatório e Contas de 2022 é relevada “a importância do aumento do custo das matérias consumidas, em mais 31,3%, e de outros gastos, em mais 32,4%, face ao ano anterior, em consequência do aumento dos custos dos combustíveis e das licenças CO2”.
Contudo estes aumentos de custos “não têm impacto directo nos resultados da EDA, uma vez que são assumidos na sua quase totalidade pelo sistema eléctrico nacional ao abrigo do mecanismo de ajustamento previsto no quadro regulatório em vigor, incluídos na compensação tarifária, que no ano de 2022 atingiu 114,8 milhões de euros, mais 30,9 milhões de euros face ao ano anterior. Caso não existisse este quadro regulatório, os impactos no tarifário teriam sido muito superiores para os consumidores na Região”.
Segundo o relatório, a estrutura financeira da EDA apresentou “uma melhoria geral dos indicadores, apesar do aumento da dívida bancária, em resultado da contabilização dos subsídios ao investimento contratualizados em 2022”.
De facto, a dívida bancária da EDA aumentou 41,6 milhões de euros em 2022, segundo o Conselho de Administração, “mais do que justificada pelos investimentos realizados e pelo desvio tarifário do período, a recuperar pela EDA em 2024, no montante de cerca de 22,4 milhões de euros”.
A agência de rating Moody’s divulgou, no passado dia 29 de Novembro, a actualização da Credit Opinion sobre a EDA, confirmando a notação Ba1, idêntica à Região Autónoma dos Açores, com perspectiva estável.

“Um ano que não se perspectivava fácil...”

O ano de 2022 “não se perspectivava fácil” para o sector da energia, na sequência da escalada dos preços dos combustíveis e das licenças de CO2 que se tinha verificado em 2021.
A eclosão da guerra na Ucrânia, com a invasão da Rússia, “veio acentuar gravemente as tensões geopolíticas, com consequências negativas nas cadeias de abastecimento global e nos mercados da energia, expondo ainda mais as grandes fragilidades do abastecimento de energia da Europa.”
 “O corolário de toda esta perturbação económica reflectiu-se no descontrolo da inflação, que atingiu níveis já não registados há décadas”, lê-se no Relatório e Contas da empresa.
Ao nível interno do Grupo EDA,  o ano de 2022 “ficou marcado pelo ciberataque de que fomos vítima e que condicionou significativamente grande parte da actividade das áreas de apoio e de suporte. Importa sublinhar que não houve qualquer impacto nas áreas de exploração da produção e da distribuição de energia eléctrica, nem há evidências de que tenham sido perdidos dados relevantes da nossa actividade ou expostos dados pessoais de clientes”.
Por outro lado, a alteração da conjuntura geopolítica levou a Comissão Europeia “a adoptar medidas para reforço da capacidade instalada de energias renováveis até 2030, reduzir a dependência energética da União Europeia e a promover a eficiência energética. Estes são também os princípios presentes na Estratégia Açoriana da Energia 2030, recentemente publicada”.
Segundo o relatório, o Grupo EDA “está profundamente empenhado neste desafio da transição energética dos Açores, contribuindo para a sustentabilidade ambiental, mas acima de tudo para reforço da autonomia energética da Região, preocupação estratégica face às crescentes ameaças e riscos de abastecimento do exterior.”

EDA investiu 46,1 milhões de euros em 2022

Apesar de toda a conjuntura “desfavorável”, a EDA “conseguiu concretizar, em 2022, o segundo maior volume de investimento da sua história, no total de 46,1 milhões de euros, e de 51,4 milhões de euros no total do Grupo EDA”.
Do investimento realizado em 2022, são realçados os projectos estruturantes para o sistema eléctrico da Região, como a conclusão do sistema de reserva rápida tipo BESS (baterias) na ilha Terceira, que entrou em exploração no início do corrente ano; a construção do sistema de reserva rápida tipo BESS (baterias) na ilha de São Miguel, cuja conclusão se prevê para o final do corrente ano.
Outros dois projectos de relevo foram a renovação dos grupos geradores da Central do Belo Jardim, na ilha Terceira, com a instalação de dois novos grupos geradores, que irão permitir a substituição de três grupos antigos, com o objectivo de assegurar o abastecimento e a qualidade da energia eléctrica naquela ilha; e a realização dos ensaios de produtividade dos novos poços perfurados em 2021 nos campos geotérmicos da Ribeira Grande, na ilha de São Miguel, e do Pico Alto, na ilha Terceira, tendo em vista o dimensionamento do aumento da potência a instalar nas respectivas centrais geotérmicas.
 Outro projecto considerado relevante foi o de instalação de contadores inteligentes (smart meters), que irão revolucionar a forma de relacionamento da EDA com os seus clientes e estabelecer as bases para a evolução para redes inteligentes.
Para além destes investimentos físicos, foi “reforçada a atenção e o investimento na inovação, com novos projectos para estudar e explorar novas soluções adaptáveis aos sistemas eléctricos das nossas ilhas, de pequena dimensão e isolados, sendo algumas acções no âmbito do projecto LIFE IP CLIMAZ, enquadrado no Plano Regional para as Alterações Climáticas (PRAC). O Plano Estratégico Plurianual 2023-27, aprovado na Assembleia Geral realizada a 16 de Dezembro, reforça este compromisso para aumento da componente renovável e endógena na emissão de electricidade na Região, assente numa estratégica combinada de sistemas de reserva rápida tipo BESS (baterias) e de aumento da potência instalada de produção a partir de fontes renováveis e endógenas em todas as ilhas”.
O total desse plano de investimentos, até 2027, ascende a 288,5 milhões de euros da EDA e a 415,9 milhões no total do Grupo EDA, em parte co-financiados pelo Plano de Recuperação e Resiliência, PRR, e pelo PO2020.
“A integração de energia eléctrica de fontes renováveis na rede, excluindo os RSU, manteve-se em cerca de 34%, em 2022, devido à avaria na Central Geotérmica do Pico Vermelho, na Ribeira Grande, que ainda esteve fora de serviço durante o mês de Janeiro de 2022 e pela redução da produção eólica, por diminuição do vento”, de harmonia com o relatório.
Ao nível da gestão interna, a empresa “manteve o foco na racionalização da estrutura organizacional, promovendo a eficiência, a agilidade e simplificação dos processos, sem descurar as preocupações com a segurança, a qualidade e o ambiente, de modo a garantir um local de trabalho seguro e saudável”.
Durante o ano de 2022, a EDA “procedeu  também à avaliação, revisão e adopção de instrumentos de gestão para responder às exigências legais de prevenção da corrupção e infracções conexas, que culminou com a aprovação de um novo Código de Conduta para o Grupo EDA, que visa promover a transparência e a adopção de comportamentos individuais que proporcionem bom ambiente de trabalho e dignifiquem o nome e o reconhecimento do Grupo na sociedade onde se insere”.
 GLOBALEDA única empresa
Do grupo a dar prejuízo

As subsidiárias do Grupo EDA, “apesar da conjuntura e outras circunstâncias que afectaram a respectiva actividade”, tiveram um desempenho financeiro  “globalmente favorável”.
A EDA Renováveis obteve um resultado líquido de cerca de 8,5 milhões de euros, mais 7,7% do que o valor registado no ano anterior, apesar da avaria da Central Geotérmica do Pico Vermelho se ter prolongado até final do mês de Janeiro de 2022. O volume de negócios da EDA Renováveis totalizou 26,7 milhões de euros no ano em análise.
A SEGMA, por sua vez, obteve, em 2022, um resultado líquido de cerca 870 milhares de euros, mais 5,4% do que no ano anterior, confirmando “a sua solidez técnica e implantação no mercado”.  Neste ano, o volume de negócios da SEGMA ascendeu a 9,4 milhões de euros.
A GLOBALEDA apresentou um resultado negativo de cerca de 55 milhares de euros, “afectado pela estagnação do mercado onde actua e alguns desajustamentos estruturais do passado recente”.

2023 – “Ano de incerteza”

Segundo o Relatório e Contas de 2022, “Face à conjuntura geopolítica e económica internacional, o ano de 2023 perspectiva-se de grande incerteza”. E este é um ano “fundamental” para a execução dos investimentos incluídos no Plano de Recuperação e Resiliência, PRR, mas “o aumento exponencial dos custos e a dificuldade de obtenção de propostas dos concursos submetidos ao mercado, mesmo com preços base revistos em alta, devido à elevada procura actual no mercado e à falta de mão-de-obra especializada, colocam sérias dúvidas sobre a capacidade de se concretizar estes investimentos no calendário definido”.
Acrescenta o documento que “é necessário rever a programação destes investimentos”. Por outro lado, “a persistência da pressão inflaccionista exige um rigoroso controlo dos custos de exploração em todas as empresas do Grupo, em especial no caso da EDA, dado o quadro regulatório a que está sujeita”.
 
 Consumo de electricidade cresceu

Na Região registou-se, em 2022, um crescimento do consumo de electricidade na ordem dos 0,8%, com destaque para a evolução positiva de 5,9% no segmento do comércio e serviços, incluindo serviços públicos, justificado pelo aumento da actividade turística.
Ao invés, ocorreu a redução do consumo na iluminação pública de 17% em resultado da campanha de substituição de luminárias VSAP (Vapor de Sódio de Alta Pressão) por LED.   A emissão própria e a aquisição anual de electricidade atingiram os 823,1 GigaWatts/hora, correspondendo a um acréscimo de 1,8% relativamente ao ano anterior. A emissão própria, de origem térmica, contribuiu com 64,9%, destacando-se a emissão a fuelóleo, com 57,6%. A aquisição de energia eléctrica, de origem renovável, totalizou 279 GigoWatts/hora, representando cerca de 33,9% da energia injectada na rede, não incluindo RSU, com preponderância para a energia de origem geotérmica que representou cerca de 21% do valor total.
A empresa salienta que, em 2022, a produção com origem geotérmica cresceu 8,9%, revertendo a queda registada no período homólogo em consequência da redução da produção da central do Pico Vermelho devido a uma avaria do alternador. Contudo, em 2022, a produção com origem eólica, que representou 8,3% do valor total, teve um decréscimo de 13,6 pontos percentuais, fruto de condições climatéricas pouco favoráveis registadas ao longo do ano.


João Paz *

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Autor: CA

Categorias: Regional

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