Pela primeira vez, e depois de já ter estado presente por duas vezes na ilha da Terceira, a Kidical Mass vai organizar um encontro, pelas 10h30 do dia 24 de Setembro, junto ao jardim António Borges, em Ponta Delgada.
A Kidical Mass chegou a Portugal em Maio de 2022, envolvendo a participação de cerca de 20 localidades na sua estreia, tendo este número aumentado de evento para evento. Costumam realizar-se dois eventos por ano, sendo o primeiro realizado em Maio e o segundo em Setembro. O nome surge da junção de Kid (criança) com Critical Mass, que é um movimento que promove o bem estar através do uso de meios de locomoção não motorizados.
Este movimento, que tem como mote “Espaço para a nova geração”, procura dar uma maior visibilidade a um estilo de vida mais saudável, não estando tão dependente dos transportes motorizados, procurando promover um modo activo de deslocação, nomeadamente através do uso de bicicletas.
Algumas reivindicações do grupo passam por rotas seguras para as escolas, ciclo vias largas, contínuas e com cruzamentos seguros e mais espaço público dedicado à mobilidade activa para estar/brincar. Também fazem parte das suas pretensões a melhor pavimentação das ruas e a melhoria de estruturas cicláveis.
Esta acção acontece no fim-de-semana que finaliza a Semana Europeia da Mobilidade, celebrada entre 16 e 22 de Setembro.
David Mendes, responsável pela organização do evento em Ponta Delgada, abordou toda esta temática numa entrevista ao Correio dos Açores.
Correio dos Açores - Em que consiste este projecto?
David Mendes - É uma dinâmica que tem surgido em várias cidades da Europa e que se está a tentar divulgar e espalhar pelas cidades portuguesas. É uma actividade que se realiza duas vezes por ano e é a primeira vez que se realiza em Ponta Delgada.
Actualmente, existem condições para se usar mais bicicletas em Ponta Delgada em vez dos meios de transportes motorizados?
Esta é uma questão fulcral e acho que é essa a pergunta que queremos analisar com este encontro. O que se espera é que se comece a analisar esta questão. Claramente, Ponta Delgada tem condições favoráveis mas também tem desafios, muitas vezes é uma questão de mentalidade. Não é só uma questão de mentalidade dos ciclistas, ou seja vontade de pegar na bicicleta, mas também dos automobilistas e restantes utilizadores da estrada. Há que se alterar algumas mentalidades e mesmo alguma estrutura da cidade. Este encontro serve exactamente para se discutir ideias sobre isso também. A ideia não é fazer um encontro e as pessoas apenas andarem de bicicleta. O objectivo é educar as pessoas, falar com as pessoas que estão interessadas neste tema e procurar soluções.
Entende que esses desafios condici-onam, de certo modo, o estilo de vida dos açorianos?
Claro. Embora seja mais direccionado para os jovens, é para todas as idades. Há muita mentalidade a mudar. Por exemplo, vemos muitos jovens a serem levados de carro para a escola e a vir dela. Casos em que os alunos vivem no centro da cidade, por exemplo, podiam deslocar-se de bicicleta para a escola e ainda não há essa abertura. E esta mentalidade terá que ser mudada para que os jovens possam usar a bicicleta na cidade.
Já vemos algumas pessoas de trotineta eléctrica a circular pelas ruas de São Miguel, encaixam-se no movimento?
Estamos mais direccionados para a parte das bicicletas. Claro que se alguém quiser fazer o percurso de trotineta não haverá problema. Tem havido alguns problemas em relação à utilização das trotinetas em locais urbanos. Por exemplo, em Paris foram retiradas as trotinetas de aluguer, mesmo aqui em Ponta Delgada existem alguns desafios. Vejo muitas trotinetas a andar em sentido contrário do trânsito o que é muito perigoso. As trotinetas têm uma velocidade limite de 25km/h o que dentro do parque urbano já é uma velocidade considerável.
Qual será o circuito do vosso encontro em Ponta Delgada?
A ideia será encontrarmo-nos no Jardim António Borges e o convite foi feito à escola Antero de Quental para reunirmos na parte de baixo do Jardim. Seguíamos pelo interior do Jardim em direcção à Escola Domingos Rebelo e juntarmos os alunos que lá estariam. De seguida, iríamos até à Escola do Castanheiro, passando pela escola das Anexas, e aproveito para dizer que a Escola do Castanheiro foi a escola que nos impulsionou mais para fazer este projecto, pelo que vamos entrar na escola. Depois, seguimos através da Universidade dos Açores em direcção à marginal e fazer a ciclo via. Portanto a ideia é abranger estas escolas na actividade.
Tenciona levar a cabo esta iniciativa em outra ilhas?
Este é um desafio que pode ser lançado a outras cidades e a outras povoações dos Açores. Obviamente estafaríamos muito interessados em que haja outras cidades e vilas açorianas interessadas. Fica aqui o desafio lançado a quem quiser pegar nestas actividades e dinamiza-las nas suas cidades.
Tenciona repetir esta iniciativa em outras partes da ilha?
Uma vez que vivo em Ponta Delgada, não tenho capacidade para dinamizar esta actividade noutras cidades. Por exemplo, a Ribeira Grande tem uma ciclovia feita no centro da cidade e poderia ser feito lá. A Lagoa também tem uma marginal e podia fazer-se também lá. Nós não temos capacidade para alargar agora para outras cidades. Tencionamos fazer em Ponta Delgada duas vezes por ano.
Frederico Figueiredo