Presidente da Ajuda da Bretanha considera que a Festa do Milho é património imaterial

 Na costa norte do concelho de Ponta Delgada, na Ajuda da Bretanha, realiza-se amanhã e durante o fim-de-semana a Festa do Milho. Esta festa, que é organizada pelas juntas de freguesia da Ajuda, Remédios e Pilar da Bretanha, bem como pela Associação da Norte Crescente, tem como objectivo manter viva a tradição da produção do milho, que vai desde a plantação até à sua colheita.
De modo a que esta tradição seja mantida, toda a população é convidada a participar nas festividades, seja através do uso de bois e arados para a plantação, passando pela recolha das folhas e das pontas, até à colheita do milho. Estas festas costumam atrair muitos turistas, desde locais a internacionais, demonstrando um grande interesse na nossa cultura e nas nossas tradições.
Para José Farias, Presidente da Junta da Ajuda, “é importante que os jovens e as gerações futuras percebam o seu passado, visto que o nosso presente e o nosso futuro são sempre consequência do nosso passado. Esquecer o nosso passado é esquecer as dificuldades, o que aprendemos de positivo e negativo e a evolução dos povos faz-se com o grande conhecimento do que é o seu passado”.
Com o apoio da Associação da Norte Crescente, prossegue José Farias, a Junta de Freguesia de Ajuda “quis continuar com esta iniciativa, que começou com o Executivo anterior, de tentativa de preservação daquele que é o nosso património imaterial. O próprio programa está feito a ir de encontro a isto. A única forma de preservarmos o que os nossos antepassados fizeram é garantir que as gerações futuras tenham conhecimento delas, porque senão acabam por morrer”.
O cortejo etnográfico sofreu algumas reformulações:  “O desfile terá uma ordem diferente, onde os carros de bois vão abrir o cortejo. Serão acauteladas todas as situações inerentes, nomeadamente policiamento e seguros, também será acautelado o percurso para que ele não passe no interior da freguesia onde existem ruas mais estreitas e que podem condicionar o desfile” referiu o Presidente da Junta.  A adesão dos jovens e a parte mais lúdica das festas também não foi descurada. Segundo José Farias “a forma como nós aproximamos os jovens dessas questões culturais é o garante de que eles desenvolvam mais carinho e mais vontade de trabalhar. Como trabalhamos as questões ao longo do seu crescimento, e nesse sentido a Norte Crescente tem tido um impacto enormíssimo, faz com eles se sintam motivados a participar não só nas várias actividades ao longo da festa mas também no cortejo em si. Qualquer festa que esteja ligada à parte cultural se não tiver um pouco de entretenimento também não resulta. O povo português gosta de um bailarico para animar a festa”.
“Há, obviamente, a intenção de manter as questões relacionadas com a tradição, há a intenção de ter artistas da zona e há uma interligação do passado com o presente e o futuro. Por isso, temos artistas tradicionais, ligados às cantigas ao desafio, temos artistas nacionais e também dj’s. Tentamos garantir uma panóplia musical eclética que esteja ligada ao passado, presente e futuro, de modo a ser uma festa inclusiva para toda a gente”, afirma o autarca.
O “objectivo passa por olharmos para o território tendo em conta que esta festa agrega todo o território da Bretanha. O moinho será o elemento âncora, mas envolvemos as três freguesias em toda a festa. O desfile etnográfico, este ano, sairá do Pilar da Bretanha, correndo todas as ruas da freguesia da Ajuda da Bretanha e culminando no moinho do Pico Vermelho com a desfolhada”.
O evento prolonga-se durante três dias e tentamos sempre ter a questão da tradição, cultura do milho e componentes etnográficas. Temos algum material em exposição que era usado antigamente, não só no que diz respeito á produção do milho mas tudo o que tem a ver com a cultura do milho. Tentamos ter em exposição, quase como se fosse um museu temporário para que as pessoas possam relembrar certas coisas que já entraram em desuso devido à modernização da agricultura.”
“Relembrar também essas tradições e essas actividades, acaba por ser interessante porque, na Sexta-feira temos a tarde inter-geracional e os avós conseguem transmitir as suas histórias com apoio às ferramentas que temos expostas. As pessoas vestem os trajes tradicionais, que foram adquirindo ou que foram fazendo”, referiu Miguel Brás, coordenador da Associação Norte Crescente.
O equilíbrio entre a parte tradicional das festas e a parte do entretenimento é, para Miguel Brás, essencial. “Logicamente, temos que ter um equilíbrio até para proporcionar um convívio maior entre as pessoas. Trabalhamos a parte musical indo sempre de encontro à etnografia e às tradições do território. Temos uma noite de cantigas ao desafio que é muito tradicional dos Açores, tentamos ir buscar músicos da região para que possam ter oportunidade de promover o seu trabalho e este ano vamos ter um cantor nacional para também inovarmos um pouco e permitir que as pessoas tenham contacto com vátios artistas”.
Esse cuidado na preparação da componente musical e de entretenimento também é visto como um complemento ao território. “Para nós tudo é importante porque é esta ligação entre todos os factores que permite valorizar e consolidar todo o evento em si. A parte dos jovens, dos idosos, da história e etnografia, a parte da animação musical e a parte da gastronomia porque vão haver barraquinhas que irão servir produtos feitos com receitas tradicionais ligados ao milho. Essas barraquinhas são dinamizadas pelas instituições locais possibilitando também a partilha de conhecimentos e de receitas do território”.
Tanto o Presidente da Junta de Freguesia da Ajuda como o coordenador da Associação Norte Crescente são da opinião que a festa serve de promoção ao turismo da zona, mas alertam para o pouco investimento que é feito, “toda a zona da Costa Norte tem tido pouco investimento no turismo. A economia dos Açores tem mudado radicalmente, as pessoas ligadas à lavoura e agropecuária estão a desaparecer. Há cada vez menos lavradores e pequenas lavouras. Temos que arranjar alternativas de forma a manter a questão demográfica, temos que garantir que as pessoas possam ter condições para ter habitação na sua terra e o turismo é uma dessas vertentes. Temos que garantir que os turistas venham para a nossa terra, não copiando os outros mas sendo originais, através das nossas tradições”.
“No nosso caso, o que nos distingue”, afirma José Farias, “é a caça à baleia na vertente ligada ao mar e o trabalho do povo ligado à terra. Os turistas querem conhecer a nossa história porque é isso que nos difere dos outros. Mostrar o que nos distingue é essencial do ponto de vista turístico. Agora há que garantir um conjunto de infra-estruturas e equipamentos. Deveria haver uma visão mais alargada do poder governamental regional sobre esta zona e como investir e apoiar as nossas associações e executivos na busca, preservação e manutenção dessas tradições como factor de dinamização económica.”
“Estamos a dinamizar o factor cultural com as forças vivas das freguesias, preservando as nossas tradições, e procurando que a nossa economia local cresça não só com quem nos visita, mas também na criação de emprego. Isto para manter os nossos jovens nas suas freguesias e com a possibilidade de desenvolvimento de empresas. Acho que isso é essencial e o turismo seria uma via para caminharmos nesse sentido”, referiu José Farias. Já Miguel Brás afirma que a Bretanha é o “território que tem menos turismo. Já começamos a ver muitos carros de aluguer, mas é importante dinamizar o turismo nesta zona de São Miguel. Temos o moinho que consegue atrair turistas, não na dimensão que seria expectável, porque também é preciso estruturar e ver como é que se consegue manter o moinho aberto durante toda a semana. Esta festa acaba por ser um chamariz e uma demonstração daquilo que existe no território. Conseguimos produzir conteúdos e informação que nos possibilita fazer a promoção do próprio território e das próprias freguesias como um todo suportando-se no património agrícola e cultural associado à produção do milho”, concluiu Miguel Brás.
                                 

Frederico Figueiredo

 

 

 

 

 

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Autor: CA

Categorias: Regional

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