Correio dos Açores - Como é que este interesse pelo mar e pelo mergulho surgiu na sua vida?
Melodie Treviño (Mergulhadora e empresária) – Desde que era pequena sempre passei muito tempo na água, porque fazia parte da equipa nacional mexicana de mergulho. Depois disso, entrei para uma equipa na universidade. Passava muito tempo na água e estava ligada aos desportos aquáticos. A primeira vez que fiz mergulho foi com a minha família, quando era pequena, e achei muito interessante, mas naquela altura não sabia que era possível criar um estilo de vida ou carreira no mergulho. Por isso, fui para a IE Business School, tirei um mestradao e depois comecei a trabalhar na área, durante um tempo, até que decidi que havia algo que faltava e não me senti completa. Decidi mudar-me para a Riviera Maya e perseguir uma carreira no mergulho. Comecei um negócio na área do mergulho, tornei-me instructora, mergulhadora técnica, especializada em cavernas. Agora estou a fazer isto e sinto-me muito feliz e que estou a viver este sonho, às vezes desafiante, mas aqui estou. Agora estou muito feliz por estar em Lisboa e à espera por participar no evento “Diving Talks.”
Gosta muito de estar debaixo de água?
Sim, adoro. Para mim, cada vez que vou para a água é como um sonho. Cada mergulho e momento é único. Não interessa se faço o mesmo mergulho, no mesmo lugar, quantas vezes for, que cada vez é diferente.
Esta foi a sua primeira vez nos Açores? Gostaria de voltar?
Sim, foi, e adorei. Passei a maior parte no Pico, e a ilha é tão linda e os lugares de mergulho que visitamos durante esta viagem eram fantásticos. A visibilidade era muito boa. A água estava um pouco fria, mas nem tanto. A temperatura estava entre os 20 e 22ºC. Passamos um bom bocado na água, com os meus colegas. Alguns já conhecia pessoalmente, mas outros conheci nos Açores e mergulhámos juntos pela primeira vez. Conhecemos a comida local. Provámos as uvas do Pico, provámos vinhos brancos incríveis. A comida que tivemos no O Farrobo era fantástica. Todas as noites tinhas uma grande refeição, porque quando se mergulha ficamos com muita fome depois. Estávamos sempre famintos. A hospitalidade foi muito boa. Gostava de voltar, com certeza. Quero realmente regressar, talvez no próximo ano, e conhecer outras ilhas. Gostava de encontrar alguns animais marinhos. Sei que na costa podemos encontrar baleias específicas, como os cachalotes e adoraria ter essa experiência e de passar mais tempo a mergulhar.
Qual foi o seu papel nesta viagem aos Açores inserida no projecto “Diving Talks”?
O meu objectivo era conhecer e explorar o Pico, na perspectiva da “Watermelodie”, a influenciadora, partilhar um pouco do que vi durante a viagem, com os meus seguidores e passar um bom tempo com os meus colegas. Estou muito feliz por poder contar sobre o que vi, todos os dias, no Pico.
Como foi a sua experiência no mundo subaquático açoriano? Há algo de único nele?
Sim, esta experiência foi muito única. Acho que nunca mergulhei num sítio assim. As formações de lava submarinas, onde nadámos, eram únicas e lindas. Também fiquei surpreendida pela grande quantidade de peixes juvenis, o que é um bom sinal da melhoria do ecossistema, em termos da vida marinha que podemos encontrar debaixo da água. Também gostei muito de um mergulho onde vimos um farol no fundo do mar. Um local contou-nos a história toda e pudemos imaginar como era antes. É surreal e interessante poder nadar perto de uma estrutura daquelas.
No que toca à questão da conservação, encontrou algum problema no mar dos Açores?
É uma questão complicada, porque é a minha primeira vez no Pico e não tenho como comparar, mas podemos observar que não há muitos peixes na água.
Como é que os seus seguidores têm reagido às publicações sobre os Açores que faz nas suas redes sociais?
As pessoas dizem que ficam com vontade de visitar os Açores. Perguntam sobre os lugares de mergulho, a comida, qual foi o meu itinerário e de onde voei para cá chegar. Muitas pessoas têm me questionado, porque ficaram muito interessados neste destino de mergulho. É muito interessante mergulhar lá, e permite também passar umas férias muito boas. A ilha é linda, e estar lá transmite calma, paz, é muito tranquila e tem muitas coisas para fazer.
Nos próximos dias vai participar nas “Diving Talks”, em Lisboa. Em que consistirá a sua participação?
Vou participar no Domingo, e falar um pouco sobre quem sou, sobre o que tenho aprendido, porque é que sou muito activa na indústria do mergulho. Porque não se trata apenas de publicar nas redes sociais, é mais sobre contar uma história do que faço todos os dias para a minha comunidade. Desta maneira, posso partilhar as minhas preocupações sobre conservação, o ambiente, sobre como melhorar as nossas habilidades no que toca ao mergulho, e sobre como podemos começar para nos tornarmos mergulhadores. Tento partilhar um pouco disso, no meu dia-a-dia. Vou tentar fazer um resumo disto no “Diving Talks”. Também vou falar no meu trabalho no México.
Quais são as questões que ainda temos de tratar, no que toca à conservação dos oceanos?
Acho que é sobre estarmos cientes do facto de que estes ecossistemas não estarão ali para sempre se não os protegermos. Acho que um grande problema é a falta de conhecimento de factos básicos que temos de relembrar a nós próprios e a todos, de que o que vemos hoje, podemos deixar de ver no futuro. Temos de preservá-lo e temos de transmitir a palavra sobre isso. Se prestarmos mais atenção, podemos fazer uma diferença maior.
Que mensagem gostaria de deixar aos açorianos?
Se for mergulhador, já é um embaixador dos oceanos, porque sabe o que existe lá e o que já não existe e desapareceu ao longo dos anos. Para quem não mergulha, diria que é bom inspirar as pessoas a aprender a mergulhar, ou pelo menos ir nadar, ou fazer snorkeling e ver o que há debaixo do mar, porque é muito difícil proteger algo que não conhecemos. Os Açores devem estar conscientes de que existe um mundo debaixo de vocês. Devemos chamar a atenção para o facto de que há algo maior do que nós e estamos aqui por um curto período de tempo, mas os nossos ecossistemas tentam ser resilientes e temos de protegê-los.
Mariana Rovoredo