Correio dos Açores - Descreva os dados que o identificam perante os leitores!
Luís Maurício (Médico e dirigente regional do PSD/A) - Nasci em Ponta Delgada há 60 anos. Filho único, cresci na freguesia de S. José, onde frequentei a escola primária no Campo de S. Francisco – hoje inexistente – de que guardo muitas e boas memórias, desde logo do meu professor primário Francisco Silva, hoje a residir em Lisboa. O Liceu Antero de Quental foi o passo seguinte, antes da minha deslocação para Lisboa, onde prossegui os meus estudos e concluí a minha licenciatura em Medicina.
Fale-nos do seu percurso de vida no campo académico, profissional e social?
Depois de concluído o ensino secundário, entrei para o curso que sempre quis frequentar, na Faculdade de Medicina de Lisboa. O Hospital de Santa Maria era para mim, à altura, de tal forma gigantesco que nos primeiros dias várias vezes me perdi à procura dos anfiteatros onde as aulas teóricas eram ministradas e dos laboratórios onde era leccionada a componente prática. Associei aos estudos, desde o primeiro ano, a minha vida associativa, fazendo parte, durante os seis anos do curso, da Direcção da Associação de Estudantes. Fui, igualmente, representante dos alunos da Faculdade no Conselho Pedagógico, presidido por alguém que me marcou – professor João Lobo Antunes – membro da Assembleia de Representantes e co-fundador da Associação Académica de Lisboa. Fiz o meu estágio profissional – à altura designado de Internato Geral – no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, findo o qual entrei para o Internato de Reumatologia no Hospital de Ponta Delgada, tendo complementado a minha formação no Serviço de Reumatologia do Hospital de Santa Maria e no Hospital Cochin, em Paris.
Concluída a especialidade de Reumatologia fixei-me no Hospital de Ponta Delgada, hoje Hospital do Divino Espírito Santo, onde continuo a trabalhar, a par do exercício da medicina privada, no meu próprio consultório e no Hospital da CUF Açores, na Lagoa.
Enquanto especialista, fui membro da Direcção da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, Sociedade Científica que congrega todos os reumatologistas portugueses, durante 8 anos, tendo sido seu Presidente de 2010 a 2012. Trouxe para S. Miguel, em Abril de 2006 – ao Teatro Micaelense – o XIII Congresso Português de Reumatologia, com 1.012 inscritos, o maior congresso médico, julgo, que ainda hoje, se terá realizado nos Açores.
Sempre fui um apaixonado pelo Termalismo, razão pela qual fiz uma pós graduação em Hidrologia e Climatologia Médicas no Instituto Superior Técnico, trazendo a minha experiência de trabalho nas Termas de Sangemil e das Caldas da Felgueira para os Açores, tendo trabalhado nas Termas do Carapacho, na Graciosa, e nas Termas das Furnas, no velho edifício, hoje hotel. Infelizmente, a maior hidrópole da Europa – as Furnas – viu abandonada, em grande parte, a sua vocação termal, que associava à riqueza terapêutica das suas águas a inigualável qualidade das lamas da caldeira de Pêro Botelho, situação que me entristece.
Sensibilizado para as questões da gestão hospitalar, fiz uma pós-graduação em Gestão de Unidades de Saúde na Universidade Católica, tendo a respectiva Competência atribuída pela Ordem dos Médicos, tendo sido adjunto da Direcção Clínica do Hospital do Divino Espírito Santo entre 2008 e 2010.
Ao instinto associativo associou-se a actividade política, sendo, desde jovem, militante da JSD e do PSD, tendo percorrido vários cargos partidários, sendo actualmente, um dos vice-presidentes do PSD. Fui deputado do PSD à Assembleia Legislativa Regional dos Açores entre 2012 e 2020, sendo nos dois terços finais do segundo mandato, seu líder parlamentar.
Como se define a nível profissional?
É sempre difícil fazer uma autoavaliação mas julgo ser um médico com uma boa relação com os seus doentes, sensível ao contexto onde se inserem, defensor da sua saúde, independentemente do local onde lhes presto cuidados.
Quais as suas responsabilidades?
As minhas responsabilidades derivam dos princípios éticos e deontológicos com que exerço a minha profissão, no respeito pelo próximo e na compreensão das suas fragilidades, tratando todos de igual forma.
Como descreve a família de hoje e que espaço lhe reserva?
A forma como a família hoje se organiza é muito diferente daquela onde cresci. Evoluiu para diferentes formas de organização. Os tempos evoluíram e a sociedade tem que se adaptar às suas novas formas de organização. Sou defensor absoluto do meu núcleo familiar. A família, para mim, constitui o meu apoio e é-me insubstituível. Vejo nos meus filhos o prolongamento dos valores que me transmitiram os meus pais e gosto que eles sejam o meu espelho. Nem sempre tive o tempo que gostaria de lhes ter dedicado, assim como à minha mulher, mas o exercício exigente da profissão nem sempre o permitiu.
Que importância tem os amigos na sua vida?
Felizmente que tenho amigos de várias gerações. São companheiros, confidentes, recordatórios de momentos felizes. Indispensáveis nos bons e nos menos bons momentos.
Para além da profissão, que actividades gosta de desenvolver no seu dia-a-dia?
Resta-me pouco tempo mas não dispenso a leitura dos jornais regionais e dos principais jornais nacionais. Ao fim-de-semana um mergulho no “Pesqueiro” é obrigatório.
Que sonhos alimentou em criança?
Sonhei ser piloto. Ainda hoje admiro quem trabalha na aviação. No entanto, o sonho dilui-se em função da minha vocação médica que se tornou definitiva a partir do meu 9º. ano. Assim, não foi difícil no 12º. ano e aquando da minha candidatura só colocar Medicina como opção.
O que mais o incomoda nos outros?
O cinismo, a mentira, a deslealdade.
Que características mais admira no sexo oposto?
Não diferencio entre géneros essas características. A solidariedade e a capacidade de trabalho são, seguramente, das que mais aprecio.
Gosta de ler? Diga o nome de um livro de eleição?
Gosto de ler. Um dos últimos livros que li aborda a questão da inteligência artificial e as possibilidades da sua influência no futuro da humanidade.
A obra ‘Homo Deus’, de Yuval Noah Harari, desvenda os projectos, sonhos e pesadelos que poderão dar forma ao século XXI. Com realce para a indústria construída à volta do prolongamento da vida e a tentativa de vencer a morte.
“A História não tolera o vazio”, diz Harari, e, por isso, buscamos constantemente mais e melhor. Raramente nos contentamos com o que temos. A reação mais comum perante o sucesso não é a satisfação, mas procurar mais e melhor.
O sucesso gera ambição. Depois de termos atingido os níveis de conforto que a grande maioria do mundo vive, os objectivos da humanidade encaminham-se para a imortalidade, a felicidade e até a divindade. E fazer do Homo Sapiens o Homo Deus.
Como se relaciona com o manancial de informação que inunda as redes sociais?
Sou pouco frequentador das redes sociais. Comecei por ser um entusiasta mas a forma como, muitas vezes, são utilizadas, sem a noção do universo a que pessoas e factos são expostos, retiraram-me o interesse. Reconheço a vantagem da rapidez com que os acontecimentos são por elas conhecidos mas a “distorção” da sua utilização ceifou-me o meu entusiasmo.
Como lida com as notíciais falsas e com as redes sociais?
Cada vez, infelizmente, mais frequentes, levou-me a um distanciamento progressivo das redes sociais.
Como lida com as novas tecnologias e que sectores devem a elas recorrerem para melhorarem o respectivo rendimento?
Em constante evolução, as novas tecnologias – em múltiplas áreas – tornaram-se um instrumento que hoje já não dispensamos, entrando no nosso quotidiano. Na Medicina ela permitiu avanços inigualáveis quer no diagnóstico, quer na terapêutica de muitas doenças. Exemplo disso é o que se passa nos Açores, onde por via da nossa natureza arquipelágica necessitávamos que a era digital proporcionasse a intercomunicabilidade entre unidades de saúde – hospitais e centros de Saúde – num mecanismo que proporcionará à Região poupança de muitas centenas de milhares de euros. O projecto MUSA aí está e é um bom exemplo da aplicação da tecnologia ao serviço da população.
A inteligência artificial está no centro do debate e pode por em risco o ser humano. Até onde deve ir essa inovação?
O limite da utilização da inteligência artificial deve ser o da sua desumanização. Há, no entanto, áreas do conhecimento onde a inteligência artificial já apresenta resultados. Uma delas é, precisamente, a área médica onde a aplicação de determinados algoritmos permite a interpretação e o diagnóstico na ausência do humano decisor. Isso representa avanços significativos, nomeadamente, na área da imagem. Acontece, porém, que quem define o algoritmo continua a ser o “humano” médico. O risco é a generalização a áreas em que se pretende substituir a decisão humana por “simples” máquinas, o que se torna extraordinariamente perigoso.
Costuma ler jornais?
Faz parte do meu quotidiano. Leio diariamente todos os jornais regionais e os principais jornais nacionais, estes em formato digital. Considero-me um cidadão informado. Valorizo o papel da comunicação social e as condições, sobretudo em termos de recursos humanos, em que muitas das vezes trabalham nos Açores. A comunicação social representa um papel fundamental na difusão da informação e na afirmação da democracia.
O que pensa da política? Gostava de ser um participante activo?
Uma actividade nobre e de serviço à comunidade. Sempre o encarei como tal enquanto exerci funções públicas. Procurei estar próximo das pessoas, de quem me elegeu, procurando ser porta voz das suas preocupações. A actividade política está descredibilizada e os que a exercem são avaliados todos de igual forma, o que é injusto, desmotivando quem assume essa missão. Sou a favor da valorização da actividade política e do político que exerce funções públicas. Sou a favor do redimensionamento das Assembleias da República e Regional, com redução do número de deputados e da criação de círculos uninominais, que aproximem mais o eleito do eleitor.
Gosta de viajar? Que viagem mais gostou de fazer?
As viagens são um dos meus prazeres. Aprecio uma boa viagem para um destino mais “cultural” e de peso histórico, como aprecio e muito, uma viagem que me proporcione um repouso quase absoluto ao sol, que adoro. No entanto, Paris é sempre uma referência.
Quais são os seus gostos gastronómicos? E qual é o seu prato preferido?
Sou um bom prato e gosto de um bom vinho mas o cozido à portuguesa feito com ingredientes dos Açores e um polvo assado são os meus preferidos.
Que notícia gostaria de encontrar amanhã no jornal?
Que tivesse sido atingido um acordo de paz na Ucrania e em Israel.
Se desempenhasse um cargo governativo descreva uma das medidas que tomaria?
Não faz parte da minha personalidade a procura do exercício de cargos governativos. Essa é uma prerrogativa de quem lidera a Governação, mas seguramente que lutaria por uma maior justiça social.
Qual a máxima que o/a inspira?
A vida só se vive uma vez.
Em que época histórica gostaria de ter vivido?
Sinto-me bem na época em que vivo.
João Paz