Gabriel Fernandes, de 67 anos de idade, é gestor de emoções, mas no presente está reformado. É formado em Psicologia na vertente da Psicoterapia e trabalhou em vários locais, nomeadamente no continente, em Inglaterra, no Brasil, no Canadá e nos Estados Unidos da América. Acerca de gestão de emoções, diz que “é aconselhamento psicológico para as pessoas aprenderem a gerir as suas emoções”.
Há muitos factores, que levam as pessoas a não conseguirem gerir as suas emoções. Entre esses factores, estão “a carência social, amorosa e afectiva. Quanto mais carente a pessoa é, e menos independente for emocionalmente, mais dependente vai ficar dos outros, dos seus contactos sociais, íntimos ou afectivos”.
Nos tempos que correm, muita gente não consegue suportar a carga emocional diária, surgindo o síndrome de burnout. “Essa carga emocional diária tanto pode ser no emprego, na escola, na família, e a família tem situações muito complicadas e vejo muitos adolescentes com imensos problemas e depois vingam-se na sociedade”, lamenta”.
Inclusivamente, o nosso entrevistado disse, que numa grande superfície de Ponta Delgada viu uma família, junta em termos físicos, a mãe com a filha e o pai com o filho, reparando que houve ali depois uma ameaça do pai para o filho, para não dizer nada à mãe, desconhecendo o assunto. “Moral da história, daqui a três ou quatro anos há a possibilidade desse rapaz se vingar na sociedade. Isto sempre foi assim. Se os pais ralharem com o filho mais velho, há uma grande possibilidade dele se vingar no irmão mais novo, no cão ou no gato. E se ele não tiver irmãos, vai-se vingar na rua, ou vai partir um vidro ou vai chamar nomes a um ser humano mais novo”.
“Há muita pressão na vida social”
Hoje em dia, “há de facto uma tendência da sociedade para um burnout, porque há muita pressão na vida social nos tempos que correm. As pessoas não têm capacidade para poderem gerir as suas emoções e para se defenderem em relação às ameaças exteriores. Quando surge uma ameaça eminente de dano físico exterior, reagimos, fugimos ou corremos. No entanto, há uma pergunta sem resposta, que tem a ver com uma ameaça eminente de dano emocional e o que é que acontece? Esta é uma pergunta sem resposta e cada um reage de forma diferente. Já se for numa ameaça eminente de dano físico exterior, a pessoa pode fugir, agachar e pode até agredir o outro, enquanto que na ameaça eminente de dano emocional, as respostas são completamente diferentes e cada um tem a sua maneira de agir, e daí a necessidade de haver nas escolas, no meu entender, um ensino sobre a gestão emocional do adolescente. Para quando for adulto, consiga-se defender da ameaça emocional, onde ninguém está preparado para isso”.
“Numa situação prolongada de stress ou uma tendência para o esgotamento, quando passa o delinear dessa situação, a pessoa começa a sentir ansiedade para o dia a seguinte. Acorda ansioso, passa o dia ansioso e deita-se ansioso, e é meio caminho andado para o esgotamento físico e mental intenso”.
Essas formas de esgotamento são depois muito complicados de se gerir e é nesta fase, que a maior parte dos psicoterapeutas age.
“Perderam-se funções
sensoriais importantes”
O nosso interlocutor é micaelense, mas formou-se em Lisboa, na Faculdade de Psicologia e de Ciências de Educação, nos anos 80. Fez depois várias pós-graduações, em várias áreas, uma delas numa universidade federal do Rio de Janeiro. Foi ainda formador de outros formadores.
Por falar no Brasil, gerir as emoções nos Açores ou no Brasil é igual em todos os lados. “Isto hoje em dia, com acesso à Internet e a informação que nós temos, tanto faz viver aqui como no Brasil é mais ou menos a mesma coisa”.
A propósito de novas tecnologia, Gabriel Fernandes sublinha, que “hoje em dia há uma grande falta de contacto emocional directo nas famílias e entre pessoas, com a tendência das pessoas simplificarem em excesso”. Trocando por miúdos, “era importante para as famílias estarem reunidas nas refeições com as televisões desligadas e sem prestarem muita atenção aos telemóveis. Perderam-se funções sensoriais importantes, como olhar ou conversar. As pessoas estão a fugir muito a isso e é uma pena”.
Acresce referir que o síndrome de bournot, também chamada de síndrome de esgotamento profissional é um distúrbio psíquico de carácter depressivo, procedido de esgotamento físico e mental intenso.
Gabriel Fernandes vai a médio prazo regressar a Lisboa, para viver com um dos seus cinco filhos. “Esta fase já passou, vem agora outra”.
Marco Sousa