Os problemas urgentes dos Ginetes são falta de população, carência de habitação e necessidade de obras de requalificação das infra-estruturas

Correio dos Açores – Que retrato nos pode fazer da freguesia dos Ginetes nesta altura do ano?

Paulo Pavão (Presidente Junta de Freguesia dos Ginetes) – Os Ginetes são a freguesia que faz triângulo com os Mosteiros e com as Sete Cidades. São uma freguesia central da costa oeste de São Miguel, mas infelizmente não tem sido vista como tal. Ainda não viram o verdadeiro potencial dos Ginetes. A freguesia precisa de um desenvolvimento diferente, que possibilite fixar mais pessoas. Os Ginetes têm a Ferraria, que é um privilégio. É o ex-libris da nossa freguesia. Há que desenvolver aquele espaço, que está aquém daquilo que é capaz.

 
Quais são as principais dificuldades enfrentadas actualmente pela freguesia?  
Desde logo, a diminuição da população. Os Ginetes foram a freguesia que mais habitantes perdeu nos últimos censos. Actualmente, temos aproximadamente 1.200 pessoas, sendo que cerca de 300 pertencem ao lugar da Várzea e as restantes aos Ginetes.
Outro problema é a falta de habitação, que está directamente relacionada com a falta de pessoas na freguesia. Para haver mais pessoas é necessário haver habitação, há que consolidar equipamentos na freguesia para que se consiga fixar pessoas. Está tudo interligado. Temos diligenciado, junto do Governo Regional e da Câmara Municipal, a construção de novas habitações na freguesia, sobretudo para agregados familiares mais jovens. Está prevista a construção de cerca de uma dezena de novas habitações na Várzea e nos Ginetes. Há cerca de duas semanas, deram-nos a informação que vão ser feitas cinco habitações nos Ginetes até 2025.

Em sua opinião, o que poderia ser feito para fixar as pessoas na freguesia?
A Junta de Freguesia dos Ginetes é a única autarquia dos Açores que tem um fundo de apoio à natalidade. O apoio financeiro, no valor de 350 euros, destina-se ao primeiro ano de vida do bebé. Actualmente, seis famílias são abrangidas pela medida de apoio da Junta de Freguesia dos Ginetes. Além disso, a freguesia necessita de uma creche. Os pais vão trabalhar para Ponta Delgada e têm que levar os filhos porque não têm sítio para deixá-los nos Ginetes, nem temos amas suficientes para tal. A construção de uma creche nos Ginetes, como é a freguesia central, seria muito benéfico para toda aquela zona. Ou seja, uma creche que abrangesse Ginetes, Candelária, Feteiras, Sete Cidades, Várzea e Mosteiros era o ideal para fixar mais pessoas, além de que criaria postos de trabalho.  Acredito que um centro intergeracional, para os idosos, também ajudaria neste aspecto. Temos muitos idosos na freguesia que não têm boas condições de vida. Havendo um centro intergeracional, ajudaria a fixar os idosos na costa e era uma mais-valia.  

Relativamente à Ferraria, mencionou que era necessário desenvolver o espaço. Quais são os principais problemas?
Em primeiro lugar, a Junta de Freguesia tem diligenciado, na medida das suas possibilidades, por assegurar a limpeza e manutenção da zona do porto durante a época balnear. Mas, o ideal era conseguir fazer isso o ano todo, pois existe turismo na Ferraria ao longo de todo o ano. No entanto, estamos dependentes do apoio da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas.
Embora funcione todo o ano, precisa de ter melhores condições. A Ferraria é um lugar único no mundo e está um pouco aquém do que poderia estar. No entanto, não é apenas uma questão de limpeza e de mão-de-obra. É necessário investir e requalificar toda a zona da orla costeira, bem como o próprio edifício das termas e zonas de apoio, dado que evidenciam uma acentuada degradação. É uma zona com muito potencial ainda por explorar, por isso a autarquia está a acompanhar de perto alguns investidores, empresários locais, que estão disponíveis para investir e dinamizar a Ferraria.
A construção de passadiços de acesso ao mar, na zona do porto, tem de avançar o quanto antes. É raro o dia em que a ambulância não vai ao local acudir alguém. Mesmo assim, este Verão, estiveram mais de 200 carros por dia na Ferraria. É muita gente para a nossa freguesia. O bar de apoio à zona do porto continua por abrir, apesar de haver pessoas interessadas em investir, como é do conhecimento da nossa Junta de Freguesia. No fundo, falta criar condições para as pessoas.

E a derrocada que houve este Verão?
Aquelas derrocadas sempre existiram. Não é anormal naquele sítio porque é tudo cascalho e beiras altas.  Aliás, é normal que aconteça. Por acaso, aconteceu na altura que as pessoas estavam lá, mas não teve perigo algum para os banhistas que estavam na zona balnear. No outro canto, para o lado dos Mosteiros, estas derrocadas também aconteciam com muita frequência. Agora está mais parado.  

O centro termal está a funcionar nas devidas condições?
É necessário fazer uma remodelação no edifício das termas. Lá dentro, metade das coisas já não estão abertas ao público porque não funcionam. A piscina exterior tem poucas condições. É preciso requalificar aquele espaço.
Por outro lado, é muito importante concluir as obras de requalificação do Miradouro da Ferraria, antigo miradouro da Ilha Sabrina, nomeadamente a zona do parque de estacionamento e do próprio miradouro, para criar condições de conforto e segurança a quem nos visita. Penso que a obra está concluída, no entanto falta inaugurar, saber quem limpa, etc. Está para ali deixado ao acaso.

Além da Ferraria, que outras obras são necessárias na freguesia?
Outro dos nossos projectos, que gostaria de ver avançar ainda este mandato, é o da recuperação do moinho do Pico do Cavalo, pela sua importância para a freguesia, bem como a recuperação e beneficiação do Miradouro do Escalvado, na Várzea, onde se pode observar o mais bonito pôr-do-sol da ilha e que todos os dias recebe centenas de visitantes para contemplar o pôr-do-sol e ver a beleza da nossa ilha. O edifício do Moinho do Pico do Cavalo pertence à Junta de Freguesia e é um ponto turístico muito forte que não está a ser aproveitado. A partir desse moinho, consegue-se avistar toda aquela costa, desde as Feteiras até ao outro lado. Foi-nos dito pelo Governo, no ano passado, que havia verbas para a requalificação deste sítio mas nada foi feito até então. Quanto ao Miradouro do Escalvado, penso que as obras vão começar brevemente. Neste caso, o acesso existe, mas não tem qualidade. Enquanto o Miradouro da Ponta do Sossego, no Nordeste, tem uma qualidade enorme e está muito bem preparado para receber os visitantes, o nosso não tem nada. Tem apenas o que era antigamente uma vigia de baleias.

Em relação às estradas secundárias nos Ginetes, verifica-se o mesmo do que na freguesia vizinha, a Candelária?
Ainda temos algumas zonas da freguesia em que os arruamentos estão por asfaltar, mesmo que alguns tenham vários alojamentos locais. Este investimento, pela sua dimensão, só pode ser realizado pela Câmara Municipal.
Nos Ginetes temos caminhos de terra onde habitam pessoas. Especialmente de Inverno, estes caminhos têm péssimas condições. Temos um tractor na Junta de Freguesia e somos muitas vezes chamados, à noite, para ir tirar o carro de alguém que ficou preso na vala. Sempre que há chuvas mais fortes, ficamos alerta.  

E os caminhos agrícolas?
Temos vindo a alertar, por todos os meios possíveis, os Serviços Florestais para a relevância da recuperação e conservação dos caminhos agrícolas, tendo em conta que o sector da lavoura ainda é muito importante e de grande dimensão na nossa freguesia. Precisamos de apoiar mais a lavoura. Não me refiro aos subsídios, mas sim ao acesso às pastagens. Nos Ginetes temos caminhos agrícolas onde não é possível passar há dois anos. Os lavradores desenrascam-se e vão passando uns por cima dos outros. Vão-se amanhando para chegarem lá.  A limpeza dos caminhos também é feita raramente. Estes caminhos são da responsabilidade dos Serviços Florestais. Na nossa zona, a acção dos Serviços Florestais tem sido péssima. Apenas conseguem pôr lá o cascalho para os lavradores colocarem nos sítios. Há zonas onde os Serviços Florestais não vão há mais de um ano. Quanto à questão das grotas e das cheias, se as coisas estiverem limpas e em condições, evitam-se muitas situações desagradáveis de acontecerem.

Qual é a dimensão da pobreza?
Infelizmente, a pobreza existe na nossa freguesia. A Junta de Freguesia apoia por trás das cortinas. Muitas pessoas não aguentaram a subida galopante dos preços e vimos os pedidos de apoio aumentarem em quase o dobro de um ano para o outro.
 
Tem-se verificado o aumento do turismo?
Embora já não haja uma época alta tão bem definida, no Verão a freguesia mudou totalmente à noite. Tem movimento. A pizzaria O’ Sole Mio ajuda a dinamizar, porque muitas pessoas vêm da Ferraria e param na pizzaria para comer. Este Verão deu-me gozo ver que as pessoas saíam da Ferraria, encomendavam as pizzas e iam comer para o Largo do Tanque, que é o centro da nossa freguesia, porque não tinham lugar na pizzaria.  

Os Ginetes têm potencial para se desenvolver mais?
As condições já existem, resta melhorá-las para proporcionar uma melhor experiência aos turistas e aos locais. As pessoas já se aperceberam do potencial dos Ginetes, só o Governo é que ainda não se apercebeu. Não é preciso mais do que aquilo que já temos, mas é preciso dinamizar e projectar o que existe.            

Carlota Pimentel

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Autor: CA

Categorias: Regional

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