Venício Ponte, co-organizador Smart Summit

“Não deixem as suas ideias na gaveta e tragam-nas à Smart Summit na Lagoa”

Correio dos Açores - Que propostas de projectos têm recebido para serem apresentados na Smart Summit?
Venício Ponte - Temos recebido um leque muito interessante da parte das Smart Cities. Vai desde a parte da optimização dos recursos hídricos, à do melhor controlo de tráfego, até à das Mega Cities que será apresentada pela Ida Rush, de como podemos chegar lá e qual o conceito de Mega City inteligente e o que acontece aí. A cidade inteligente começa nas pessoas. Só depois da parte social estar resolvida é que podemos pensar em encaixar a parte tecnológica. Há muitas cidades pela Europa que andam a pensar ao contrário, primeiro a tecnologia e depois esquecem-se de como fazer chegar a tecnologia às pessoas.

Também é preciso que as pessoas consigam funcionar com a tecnologia...
Por isso, primeiro é preciso educar as pessoas, criar programas de literacia digital junto da sociedade e, depois, perceber o que é que a sociedade precisa. Não é o que às vezes as pessoas acham que a sociedade vai precisar. Vamos analisar, ver que crescimento tem que ter, como é que tem que ter esse crescimento e depois, então, pegar na tecnologia e aplicá-la às necessidades da população em si.

O facto da cidade da Lagoa ser conhecida como Smart City ajuda a que o evento seja aqui?
Principalmente por isso. Sempre tivemos um grande apoio da Câmara da Lagoa, quando surgimos com o nosso conceito, que não é concorrência ao Lagoa Smart City mas sim complementar. O Executivo camarário entrou em contacto connosco para nos associarmos e criar algo que faz sentido. Nós sempre dissemos, desde o primeiro instante: o primeiro parque tecnológico dos Açores é este, Smart City Lagoa. Vamos juntar tudo o que é tecnologia e vamos criar aqui raízes e fazer um evento que consiga trazer o melhor que existe. Inclusive, vamos ter uma pessoa na área de cyber-segurança, que é da Jolera, uma das entidades que esta cá alojada e que é um dos nossos patrocinadores, que vem directamente do Canadá só para falar na evolução da cyber-segurança e o que vai acontecer daqui para a frente.
Há um ponto importante que temos que realçar: o nosso objectivo é que as empresas venham cá falar dos seus produtos, falar de inovação e do que está a acontecer. Não queríamos ser apenas mais um evento onde as empresas falam do que fazem.
Vamos ter uma pessoa directamente da Google para falar de Gen AI, e explicar o que vai acontecer na Google e o que eles estão a fazer na parte da inteligência artificial e como é que vai crescer e ajudar as empresas e as pessoas. Muita gente pensa que a IA vai roubar empregos, mas não vai. A inteligência artificial vai facilitar algumas coisas e libertar as pessoas para outras tarefas de modo a sermos mais eficientes no dia-a-dia.  
É isso que queremos que venham cá dizer e queremos que as pessoas o percebam.

A mudança de espaço tem a ver com a maior afluência de pessoas este ano?
Tem a ver com uma maior afluência de pessoas, tem a ver com uma maior afluência de empresas também. Felizmente, tivemos algumas empresas que, quando viram que estávamos a construir este evento, vieram ter connosco e disseram que queriam estar presentes. Isto é muito bom sinal, é sinal que gostaram do que viram o ano passado e querem fazer parte. Vamos valorizar todos aqueles que querem estar connosco.

Em termos de workshops o que os visitantes podem esperar na Smart Summit?   
Na parte dos workshops, estamos a falar na parte do marketing digital. A Google dará um na parte da Google Work Space. Outro workshop será dado pela LOBA, empresa que vai falar de uma ferramenta que é o ZOHO. Vêm falar de como a ferramenta é eficiente e como o mercado que ainda não a utiliza muito. O mercado da Região vai perceber o que é e a dinâmica que pode criar e a eficiência que pode constituir para as empresas. É uma ferramenta muito direccionada para melhorar a experiência do utilizador.
Em tudo isto, falamos sempre em simplificar o dia-a-dia das pessoas para serem mais eficientes. Não é para as pessoas trabalharem menos, é para trabalharem melhor. É sempre neste sentido.

Ainda há espaço de crescimento para este evento?
Completamente. Já estamos com algumas linhas desejadas para o que pode ser 2024, embora o foco seja este. O que se antevê é que a Smart Summit possa ser muito interessante, assim se espera.

Ainda nota alguma dificuldade em as pessoas, especialmente em idade mais avançada, lidarem com a tecnologia?
Sim, ainda há. Mais uma vez vamos falar da literacia digital. É um erro que muita gente o faz. Eu mesmo já o fiz, a desenhar e a desenvolver aplicações que são ”o que eu gostaria que estivesse no mercado?” em vez de pensar primeiro “no que é que o mercado está preparado para aceitar”.
Progressivamente começar a introduzir as coisas, juntar as pessoas, arranjar forma de recolher informação deles e perceber até que ponto é que estão à vontade com determinadas situações e determinada tecnologia. Ai falamos sempre na parte do user experience, user interface e customer experience e tudo isto tem que ser muito bem pensado, estudado e analisado junto das pessoas, para conseguirmos criar algo que, efectivamente, faça sentido no dia-a-dia. Senão é mais uma aplicação, é mais um site que ninguém usa. Não usam porque não sabem usar, porque ninguém lhes explicou e não foram abordados para saber se isso lhes faria falta.

Acha que essa questão de desenvolver aplicação é um problema de muitas start ups a nível geral?
Sim. Eu próprio quando criei a minha start up, um dos primeiros produtos pensávamos que ia ser uma coisa fantástica e o que idealizamos à porta fechada não fazia sentido para o mercado.
Há muitas start ups que acabam por falhar porque não fazem o devido estudo de mercado, a análise de mercado. Por isso é muito bom as start ups estarem preparadas para irem buscar Adventure Capitals ou Angels. Essas pessoas têm experiência. Vão entrar para o capital da empresa, e às vezes as start ups pensam que vão perder controlo, mas não é isso que acontece, elas vão ganhar conhecimento. Vão olhar para o produto e se acreditarem nele, vai ajudar a trilhar um caminho mais certo.
Vamos ter cá, mais uma vez, a Portugal Venture que tem uma excelente equipa que ajuda a fazer isso. Têm apoiado imensas empresas na Região e no continente, uma ou outra com menos sucesso, mas, regra geral, as coisas correm bem porque existem pessoas por trás com conhecimento e ligações para abrirem as portas certas de modo a que os produtos possam crescer e ganhar mercado.

De que modo será usado o palco secundário, uma vez que o principal esta destinado para os oradores?
Será para empresas e alguém que tenha ideias para poder ter o seu espaço para apresentar a sua ideia. É o chamado elevator pitch, onde as pessoas apresentam a sua ideia para a comunidade e depois quem sabe o que pode acontecer. Claro que as ideias terão que ser previamente enviadas e explicadas de modo a fazerem sentido com o evento.

Quer destacar alguma das start ups aqui da Nonagon que tenha tido sucesso?
Das várias start ups que já fui acompanhando, há uma que teve um bom investimento junto da Portugal Venture e que tem tido um crescimento interessante, que é a Cereal Games. O facto de ser amigo do Lázaro Raposo permite-me acompanhar, com alguma proximidade, o que vai acontecendo.  No seu crescimento, começaram a surgir outras áreas de mercado que inicialmente eles não estariam a ver. Mais uma vez, devido ao acompanhamento que têm de quem tem ligações e conhecimento. E as coisas, tanto quanto sei, estão a correr bastante bem e tem tudo para correr melhor ainda.

Que mensagem quer deixar a quem pode vir a visitar a Smart Summit?
A mensagem que posso deixar é que não deixem de vir. Não deixem as suas ideias na gaveta. Podem ser boas ou más, antes de termos a certeza temos que as mostrar senão ficamos a vida toda pensar “e se?”.
                      

Frederico Figueiredo

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Autor: CA

Categorias: Regional

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