A Faculdade de Economia e Gestão da Universidade dos Açores promoveu ontem uma palestra no anfiteatro IX da Universidade dos Açores, em Ponta Delgada, intitulada “Educação, Emprego & Desenvolvimento”, que teve como orador Rui Bettencourt.
O evento contou com a presença do Presidente da Faculdade de Economia e Gestão, João Teixeira, e incluiu um espaço para debate com a participação de estudantes, docentes e membros da comunidade académica.
Durante o encontro, Rui Bettencourt partilhou com os estudantes da Universidade dos Açores a importância da educação no emprego, quer no desenvolvimento de uma maneira geral e, em particular, nos Açores.
O orador baseou-se nos dados do Eurostat, da OCDE, e do Centro Europeu de Formação Profissional, que indicam que “quem é qualificado, quem tem um nível de ensino superior, tem muito mais emprego.”
Em Portugal, por exemplo, disse Rui Bettencourt, a taxa de emprego dos qualificados ronda os 85%, enquanto dos não qualificados é muito menor, pouco mais de 50%, além de que “as remunerações são superiores, neste momento, para quem é qualificado”.
A propósito destas conclusões, o conferencista acentuou que “temos algumas questões a resolver nos Açores. Temos que ter mais educação e mais ajustada às necessidades do tecido empresarial e da nossa economia.”
“Está provado”, disse, a propósito, a educação “bem ajustada às necessidades do tecido empresarial, do desenvolvimento económico e social é fundamental numa Região.” E, referiu, “nos Açores temos que agir neste ajustamento de educação às necessidades, mas também mais educação. Temos de ter um número maior de licenciados, mais adultos com ensino superior e com ensino profissional, mas em áreas que se aproximam cada vez mais daquilo que é necessário para o nosso tecido empresarial”.
Rui Bettencourt falou de inovação, de novos produtos, novas matérias primas, novos mercados, novos clientes e novos processos e procedimentos de fabrico, além de novos métodos de trabalho, com novas lideranças e novas competências.
“Temos que ter a noção”, afirmou Rui Bettencourt, de que a classificação “também deve desencadear inovação do nosso funcionamento. A nossa economia vai depender cada vez mais dessa inovação, não só tecnológica, mas sobretudo de novos mercados, de nova clientela e novos produtos”.
“O que parece difícil, é fácil”
Conforme sublinhou o orador, “há um certo número de inovações, que vão acontecendo na economia, que desencadeiam uma modificação de competências que a educação tem que rectificar. Isto parece um trabalho muito grande mas penso que, na verdade, não é muito difícil. Nós somos pequenos. Somos uma Região com 250 mil habitantes, por isso quase que podemos acompanhar pessoa a pessoa neste processo de forte investimento na educação”.
Como salientou Rui Bettencourt, “temos problemas muito limitados. Sabemos onde acontece o quê, quais são os problemas que acontecem, em poucas áreas geográficas, para poder comparar. Por exemplo, lembro-me de regiões europeias que, apesar de terem outro nível de desenvolvimento, têm outra complexidade no tratamento destes problemas. Nós temos alguma facilidade para resolver esse problema”, reforçou
“Temos que agir na educação porque, ao fim ao cabo, nesta questão de emprego e desenvolvimento, é dos poucos factores nos quais podemos agir directamente. Por exemplo, a taxa de juro que influenciou a nossa economia e o nosso emprego não é um problema que temos directamente na mão. O preço do petróleo e outros factores ilusórios são fora da Região e nós não temos mão”.
“Pelo contrário”, prosseguiu, na questão da “educação pertinente temos mão e podemos agir directamente. E isto é muito importante. Se a questão é resolver, a educação, o desenvolvimento e emprego na Região se são problemas que estão em nós, as soluções também devem estar em nós”, disse.
Além disso, acrescentou, “é importante também transmitir que, nesta necessidade de investir na educação, para ter mais pessoas com mais educação e mais ajustada, há que haver uma visão também de desencadear inovação e desenvolvimento nos Açores, para ir ajustando a formação ao longo da vida. Cada jovem que entra agora no mercado de trabalho vai mudar, previsivelmente, na sua carreira de 40 anos, quatro a cinco vezes de profissão. Por isso, é necessário ajustar as competências que poderão ir aparecendo. Por todos estes desafios, é importante partilhar com os jovens que a Universidade dos Açores está no centro, na confluência, de todos os problemas, questões e soluções”.
“Temos de ter uma visão”
Para Rui Bettencourt, “temos que ter uma visão. Olhando 2030, um horizonte de quase uma década, é o horizonte que os jovens que estão hoje em licenciatura na Universidade dos Açores têm, para integração no mundo de trabalho e nos Açores. Temos que visar para 2030, não só uma melhoria da nossa qualificação, da nossa educação em relação ao passado, mas também temos que olhar como devemos estar em relação aos outros”.
Para o orador, os Açores 2030 “não estarão em concorrência com os Açores 2023. Estarão em concorrência com as outras regiões do mundo 2030. Temos que olhar e ter um objectivo, aproximando muito das outras regiões em 2030. Há uma trajectória muito forte a fazer. Nós somos frágeis. Temos umas fragilidades na Região. Somos pequenos, temos custos com acessibilidades. Mas por sermos frágeis não nos podemos enganar aqui”, disse.
As questões da educação que “levam à competitividade, à criação de emprego, ao desenvolvimento são questões e investimentos na educação que são dos poucos em que podemos ter mão. É um pouco este espírito transitivo mas de acção porque é necessário agir, não só reflectir sobre essa questão. Devemos partir de caminhos para a acção, que nós podemos melhorar que aumenta a nossa educação. Não é uma fatalidade, antes pelo contrário.”
“Nós somos uma Região pequena e podíamos agir com muita pertinência e obter resultados bons”, concluiu.
“Mais Educação, muito mais…”
Em termos objectivos, Rui Bettencourt deixou claro na Universidade dos Açores que para o desenvolvimento regional, é necessária “mais educação. Muito mais; e qualificação mais ajustada. Muito mais.”
Em seu entender, a Educação “é dos poucos factores do nosso desenvolvimento que não nos é imposto pelo exterior. E se os problemas estão em nós, as soluções também”.
Como é sua opinião, “não nos devemos contentar em comparar com o passado. Temos que nos comparar com os outros. Os Açores de 2030 não se encontrarão em concorrência com os Açores de 2023 ou com os Açores de 2010, mas sim com o resto do Mundo de 2030”, afirmou.
Realçou também que, “nas mutações de competências, o que está a acontecer em todo o Mundo também está a acontecer aqui. Apenas somos mais frágeis. E, por sermos mais frágeis, não podemos cometer erros”, disse.
Em sua opinião, “não é verdade que aqui seja mais difícil. Somos pequenos, somos poucos, e os problemas estão bem delimitados.”
Em conclusão, realçou que o ensino superior, com a Universidade dos Açores, “nos próximos anos, deve ter um papel fundamental neste processo”.
Rui Bettencourt foi Secretário Regional Adjunto da Presidência para as Relações Externas do XII Governo dos Açores; Director Regional do Emprego e Formação e Gestor do Fundo Social Europeu. Foi ainda Director Territorial para o Plano de Formação Profissional no Governo da região parisiense, bem como professor convidado no CNAM da Universidade de Paris de políticas territoriais de formação.
Foi, ainda, Secretário-geral do Programa Eurodyssée da Assembleia das Regiões da Europa. É mestre em Ciências da Educação e pós-graduado em Formação de Adultos e em Prospectiva e Estratégia.
Carlota Pimentel