A ENA (Eastern North Atlantic Graciosa Island ARM Facility) completa uma década de funcionamento contínuo. Eduardo Brito de Azevedo, gestor de projectos na ENA, afirma que a informação recolhida é valiosa para a comunidade científica internacional e também para a tomada de decisões no arquipélago, até porque as alterações climáticas já fazem sentir os seus efeitos na Região.
“Estamos já sujeitos a alterações climáticas. Isso é evidente, quer seja na forma como as tempestades tropicais nos atingem, quer seja na sua intensidade. Também temos as depressões extratropicais. Tudo isto é investigado de uma maneira muito útil não só para nós, mas para toda a comunidade”, refere, sobre o trabalho desenvolvido na estação, o também coordenador do Grupo para o Clima, Meteorologia e Mudanças Globais do IITAA (Instituto de Investigação e Tecnologia Agrárias e do Ambiente), da Universidade dos Açores.
Eduardo Brito de Azevedo acrescenta que “temos agora de aplicar todo este conhecimento aos nossos sectores que dependem do clima”, sendo que “praticamente tudo depende do clima aqui nos Açores”, da segurança à economia.
A programação científica da estação ENA decorre no âmbito do programa ARM do Departamento de Energia dos Estados Unidos da América e está submetido à normalização técnica do laboratório nacional de Los Alamos.
Do “extraordinário repositório” de dados climáticos registados na ENA, resultaram mais de 130 artigos científicos publicados nas mais conceituadas revistas da especialidade, como a Science ou a Nature.
“O interesse regional é saber muito sobre o clima dos Açores e sobre os fenómenos que o influenciam. Sabe-se agora muito mais do que se sabia ou do que alguma vez se conseguiu reunir aqui nos Açores, sem custos directos para o erário público”, afirma Brito de Azevedo.
O modelo, sustenta, é “benéfico para todos, porque trata-se de informação que é pública e validada pelos melhores laboratórios internacionais, em cada um dos temas, e disponibilizada ao público”.
As perspectivas de continuidade para o projecto são “confortáveis”, admite o investigador. “Com base no indicador da produção científica, temos produzido imenso, com interesse de todos os cantos do mundo”, assegura.
Noutro plano, o professor da academia açoriana critica o que pode ser uma duplicação de estruturas. “Pelos vistos, vão criar um observatório vocacionado para as alterações climáticas, quando temos já um conhecimento adquirido ao longo destes 10 anos, que ultrapassa qualquer coisa que possa ser feita nos próximos tempos. Interessa aproveitar isso”, vinca.
O Secretário Regional do Ambiente e Alterações Climáticas, Alonso Miguel, anunciou recentemente a criação de um Observatório Climático do Atlântico, um investimento superior a um milhão de euros. Esse observatório resultará da colaboração entre o Governo Regional e o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).
Já o projecto ENA é apoiado desde o seu início pelo Governo Regional e pela Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa. Com a colaboração institucional de diferentes entidades, é operacionalizado localmente, através da Fundação Gaspar Frutuoso, pelo Grupo do Clima e Meteorologia do IITAA da Universidade dos Açores, que integra diferentes linhas de investigação.
“Trata-se de um dos melhores, de maior longevidade e mais bem equipados laboratórios de investigação científica sobre o clima e alterações climáticas vocacionado para as interacções oceano atmosfera que ocorrem na bacia atlântica, em particular para o estudo da complexidade dos fenómenos associados à geração presente e futura das nuvens que, como sabemos, controlam em larga medida o balanço energético planetário”, destaca Brito de Azevedo.