Como nasce o Azorean Poke?
Marisa Duarte (Proprietária do restaurante) – Começa com o lado empreendedor que vem da minha família materna e, apesar de a vida ter tomado outros rumos, mantive sempre o desejo de ter novamente um negócio próprio que englobasse, ao mesmo tempo, a minha família.
Eu já gostava de sushi e de comida fresca, mas foi em 2019, numa viagem a Lisboa, que tive o gosto de conhecer a poke pela primeira vez e realmente foi uma das coisas que me despertou para a ideia de criar uma poke açoriana. Porque não aproveitar o nosso peixe que é fresco? Acabamos por combinar uma variedade de produtos dentro do conceito da cozinha havaiana com frescos dos Açores e produtos asiáticos que são bastante benéficos para a saúde, por exemplo o edamame que é anticancerígena e a kombucha que é um probiótico com muitos benefícios para a saúde.
O projecto começou em Setembro de 2021 e inauguramos a casa a 27 de Maio de 2022. Com toda a burocracia que existiu pelo meio e com alguns impasses, eu e o meu filho é que montamos o espaço todo. Reaproveitamos estas mesas todas e a bancada que foram compradas a um café que fechou na pandemia.
Pedro Rosa (Filho) – Eu sou chef de sushi há dez anos e a minha irmã também está na área da restauração. Ela tirou o curso de mesa-bar e eu tirei cozinha. A minha mãe tem experiência na área do empreendedorismo e foi isto que nos fez chegar aqui. Começamos de uma forma muito simples. Reciclamos muito material e, tirando a parte de electricidade e canalização, foi basicamente tudo feito por nós.
O que é que vos inspirou a abrir um restaurante de cozinha havaiana?
Marisa – Foi a parte da frescura, é uma cozinha que tem a ver com o fresco, com a praia, com a saúde. A pandemia fez-nos reflectir um pouco sobre a nossa saúde a procurar uma alimentação mais equilibrada e notamos que, apesar de os miúdos preferirem a comida processada, já existe uma maior preocupação por parte dos pais para introduzir uma boa educação alimentar. Este é um tipo de cozinha que dá energia, que deixa as pessoas saciadas, sem se sentirem pesadas.
O que é que vos distingue dos outros restaurantes em Ponta Delgada?
Marisa - No fundo, destacamo-nos pelo conceito, por ser uma poke com essência e produtos açorianos. A ementa consiste nas quatro pokes da casa, a Tuna que é a mais vendida, a Kumo, a Maki e a Vegan. Depois temos a opção de o cliente construir a sua própria bowl (taça). A comida não é cozinhada, mas há a opção de flamejar.
Esta é uma rua complicada, com pouco estacionamento e não é tão central, e tenho noção de que se o restaurante não tivesse um conceito e uma ementa diferentes, não chamava tantas pessoas. Mas a verdade é que chama pessoas para esta rua por ser diferente. Para além do takeaway, as aplicações de entrega de comida também são muito importantes, estamos na Glovo e na Uber e realmente há uma adesão cada vez maior nessas plataformas.
Pedro – Também noto que não temos um público-alvo, todo o tipo de pessoas vem ao Azorean Poke e isso é algo que queremos manter. O nosso conceito permite esta diversidade a nível de preço e qualidade do produto, que é sempre fresco. Também temos a preocupação de divulgar os benefícios dos nossos produtos para a saúde.
Como é que foi o Verão para a Azorean Poke?
Marisa - O Verão foi excelente. Tivemos muita adesão e se pudéssemos levar a poke à praia era óptimo e, na verdade, era o que a maioria das pessoas gostava.
Os locais são novos nisto, mas são curiosos e acabam por gostar. Temos cada vez mais hostels na rua, o que ajuda muito a atrair os estrangeiros. Estes normalmente já conhecem o conceito e muitos vêm através de amigos que já cá estiveram. Há uma procura cada vez maior por este tipo de comida e os outros restaurantes, embora tenham outro tipo de cozinha, já vão introduzindo a poke no menu.
Qual o prato mais vendido e porquê?
Marisa - O mais vendido são as pokes “Tuna” que é a mais antiga e leva o nosso atum e a “Maki”, que leva camarão cozido. A sobremesa mais apreciada é o gelado “Mochi”, uma mousse envolvuida numa goma glutinosa de arroz, com uma larga variedade de sabores. Temos todos os dias limonada e chá frio que fica por um euro. O que também sai muito em conta é nosso “Azorean Brunch” que engloba uma boa variedade de opções. O nosso objectivo é manter um preço acessível para que todas as pessoas consigam ir à Poke.
O Azorean Poke é um negócio familiar...
Marisa – Sim. Para além de serem meus filhos, o Pedro e a Daniela têm a mais-valia de serem especializados na área. Sempre estiveram ao meu lado desde pequenos e assim começaram com o gosto pela cozinha, o meu filho é chefe de sushi e embora o conceito não seja igual, poderá alargar a sua arte nas pokes. A minha filha Daniela foi se qualificando na parte de Mesa-Bar e tem a parte da formação da equipa e gestão. Agora retornamos todos com uma força maior, porque para além dos filhos também tenho as noras que acabam por ajudar muito.
Pedro – Sempre estivemos juntos nisto, mas agora é que nos vamos aproximar mais. A minha irmã esteve a trabalhar em Lisboa, mas regressa agora. Eu trabalho como chef de sushi no Hotel Terra Nostra e também dou apoio aqui. Queremos fazer da Azorean Poke não uma casa para fazer dinheiro, mas para nos manter unidos e garantir estabilidade para o nosso futuro. O dinheiro não é o foco, mas sim estarmos juntos. Nós começamos com muito pouco e enquanto família passamos por momentos mais complicados e estou muito grato por aquilo que conseguimos até aqui. Parece fácil, mas olhando pata trás não foi e somos o exemplo de que qualquer pessoa consegue. Quando temos as pessoas certas ao nosso lado, é fácil.
Marisa - Sempre quis passar aos meus filhos que a união é que faz a força, que somos uma família e temos de aproveitar isso. Muitas pessoas dizem que trabalhar em família é muito complicado, mas isso só acontece se assim o quisermos. Por outro lado, quero que estejamos juntos sem a pressão que implica trabalhar por conta de outrem. É essa estabilidade que eu consegui ganhar para mim e que quero dar aos meus filhos.
O que pode ser feito para dinamizar a restauração em Ponta Delgada?
Marisa - O problema em geral é a falta de funcionários, mas isso é ainda pior na restauração.
Pedro - O grande mal desta geração de restauração é a falta de pessoal formado para trabalhar. A restauração tem o rótulo muito mau para a população em geral e mesmo as pessoas que são formadas na área, não querem continuar em restauração. Eu trabalho nesta área há quase dez anos e também me revoltei em certos aspectos, horas extras que nunca foram pagas, dias a que temos direito e não são gozados, sair da empresa e não receber os nossos direitos. O Azoren Poke quer mudar esta realidade e garantir os direitos dos funcionários.
Como é que descrevem a dinâmica e a ambiência do restaurante?
Pedro - O nosso conceito é feliz, temos o verde da natureza, o azul do mar, o amarelo que é a nossa cor de eleição. O sol, o campo, o mar, a alegria, a nossa ilha tropical, a paz e as férias que as pessoas idealizam nos Açores. É isso que queremos transmitir. Tenho muito orgulho no facto de os clientes gostarem deste espaço que, no fundo, é uma construção simples que foi feita pelas nossas mãos. É um conceito simples, mas que enche a vista e os corações de qualquer pessoa. Dentro da poke as pessoas acabam por sentir algo muito parecido ao que se sente na natureza ou na praia: pessoas simpáticas, ambiente leve, produtos frescos e com muitas cores.
Marisa - Nós construímos o restaurante com amor e isso reflecte-se no agora. O ambiente somos nós que o fazemos e a equipa sente-se bem porque aqui somos uma família.
Daniela Canha