Mónica Seidi reconheceu, na cerimónia comemorativa dos 24 anos do Hospital do Divino Espírito Santo, o estado degradado em que o mesmo se encontra devido à falta de manutenção. “Infelizmente”, afirmou, “temos uma infra-estrutura que, ao longo dos anos, não sofreu obras de manutenção e isso paga-se caro”.
“É o que estamos a ver neste momento, não só na obra de recobro cirúrgico, mas outros espaços do hospital que necessitam rapidamente de intervenção. E quanto mais tarde for esta intervenção, maiores vão ser os custos associados. E estamos a fazer um esforço para continuar nesta recuperação,” disse.
A cerimónia iniciou-se com a Presidente do Conselho de Administração do Hospital do Divino Espírito Santo, Manuela Menezes, a afirmar que “não faz sentido celebrar o aniversário de uma infra-estrutura vazia.”
Salientou, a propósito, que, “por mais aparelhos, máquinas e inteligência artificial que exista” o HDES “só poderá funcionar com pessoas. Pessoas que aqui trabalham todos os dias, de dia e de noite, todos os dias do ano. Estamos a falar de uma organização muito especial que presta um serviço de grande qualidade e diferenciado a centenas de milhares de pessoas”.
“Temos o objectivo de transformar o Hospital do Divino Espírito Santo numa verdadeira organização compassiva. Não só está provado cientificamente que as organizações compassivas são aquelas que se enquadram na área saúde. Por norma, uma organização de saúde é uma instituição compassiva, mas o que nós queremos é que esta seja cada vez mais compassiva. Mas também quero dizer-vos que acredito que podemos ser ainda mais compassivos uns com os outros de modo a sermos mais felizes, porque pessoas motivadas são pessoas felizes”, realçou.
“O reconhecimento do nosso esforço, uma pancadinha nas costas, um sorriso, faz com que realmente nos sintamos motivados e queiramos fazer cada vez mais. Tudo isso que acabei de dizer tem um impacto incomensurável nas nossas vidas. Pois promove o nosso sentido de propósito de vida. O percurso de trabalho, quer queiramos quer não, deveria fazer parte do nosso propósito de vida. E é para isto que nós queremos trabalhar, no sentido de transformar esta instituição em que, no final do mês, não se recebe apenas um salário monetário mas também um salário emocional”, disse Manuela Menezes.
“Além disso, o reconhecimento também actua como um poderoso impulsionador, sentimento de pertença às nossas organizações. E isto é algo que se está a perder. Como devem saber, em instituições muito grandes, quando não há uma ligação com a organização, quando as equipas não estão unidas e não são compassivas, as pessoas não se sentem elementos da própria organização. Sentem que são mais um número e não são uma pessoa. O que nós queremos é agregar pessoas e ter equipas motivadas para trabalhar cada vez mais e melhor”, afirmou.
O desafio do esgotamento profissional
“Numa era em que o burnout (Síndrome do Esgotamento Profissional) e a falta de sentimento de pertença são desafios predominantes, o reconhecer e celebrar as conquistas pode rejuvenescer o espírito de equipa. Estamos a reconhecer, hoje, o trabalho de pessoas que dedicaram 40 ou mais anos da sua vida a esta casa. Não conseguimos alargar a mais pessoas. Para o ano prometo que faremos uma celebração mais alargada. Não é só este momento que serve para reconhecer o vosso trabalho. Este é um momento solene, mas é um reconhecimento diário que é preciso ser feito todos os dias nesta casa. Por isto é que é uma cultura que valoriza o reconhecimento, cultiva o trabalho positivo, onde os colaboradores são convidados a participar, a partilhar as suas ideias e a trabalhar conjuntamente para o sucesso das nossas organizações”, acrescentou a administradora hospitalar.
“O que se pretende no HDES é a devolução de uma cultura onde todas as categorias profissionais sejam reconhecidas com a mesma importância. Pelo seu progresso e sucesso colectivo, queremos que haja a oportunidade das pessoas cresceram não só profissionalmente como também emocionalmente. Estão todos de parabéns pela qualidade do trabalho que desempenham”, disse, sobre os planos do HDES
Finalizou a sua intervenção com uma novidade, que foi muito bem recebida por parte dos presentes: “O vosso dia de aniversário será um dia de folga, e será conhecido como o dia do colaborador. Esta iniciativa entrara em vigor a partir do próximo ano”, e anunciou que o site do HDES está no ar a partir do próximo mês.
Recuperar zonas degradadas
Luísa Penacho, psicóloga clínica, foi convidada para fazer uma intervenção na cerimónia. Fez uma “reflexão sobre como é importante o percurso profissional no desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional de cada um.”
“O hospital é o que são os seus trabalhadores. Todo o vosso esforço é a imagem e reputação do hospital. Os colegas mais velhos mostram mais brio na realização de tarefas”, disse a psicóloga clínica.
A Secretária da Saúde, Mónica Seidi, encerrou a cerimónia antes de se proceder à entrega de uma insígnia e de um ramo de flores aos 21 colaboradores que foram distinguidos por estarem em funções há mais de 40 anos.
A governante agradeceu “todo o esforço e dedicação” dos profissionais que “apresentam um trabalho de excelência em prol dos nossos utentes”.
Disse que o actual Governo Regional reconhece que “há dificuldades mas também reconhece que estamos no bom caminho e que é assim, neste caminho de sucesso, de motivação e dedicação em prol dos nossos utentes, que queremos continuar”.
Salientou o “esforço do Governo em melhorar” as condições do HDES: “Ainda esta semana foi finalmente publicado um concurso que diz respeito a uma obra que já leva mais de uma década de atraso e que tenho a certeza que vai permitir tornar o HDES um hospital ainda mais diferenciado e sobretudo devolver aos nossos utentes do Serviço Regional de Saúde melhores condições e de forma inerente mais e melhores cuidados de saúde. Diz respeito, obviamente, à ampliação do recobro cirúrgico. Um investimento superior a três milhões de euros.
Depois de se referir ao estado degradado da unidade hospitalar, recordou-se da visita que “fizemos ao 5º piso, o chamado piso fantasma, que não foi concluído desde a construção deste hospital e que, felizmente, agora esta em fase de conclusão. Esta obra vai permitir dois grandes objectivos: desde já, libertar espaço para termos mais gabinetes de consulta externa. Não podemos estar a pedir mais a este hospital quando o espaço físico não permite que os profissionais de saúde desenvolvam o seu trabalho. E também vai permitir a reorganização da unidade funcional da mama no mesmo espaço físico. Uma patologia que tem registado um aumento de número de utentes na Região. E esta é uma área em que temos que devolver aos profissionais de saúde e aos utentes todas as condições necessárias para que possam prestar e receber um serviço de excelência”, disse Mónica Seidi.
“Desinvestimento considerável no tempo”
Recordando a falta de investimento que houve durante anos no HDES, a Secretaria da Saúde relembrou o esforço feito desde 2021 pelo actual Governo para melhorar esta situação: “Este hospital teve à semelhança dos outros da Região, ao longo dos anos, um desinvestimento considerável ao nível dos equipamentos. Estamos a falar de um sector que está altamente na vanguarda com constantes mudanças. Os equipamentos são cada vez mais específicos e especializados e isso reflecte-se no preço. Desde 2021 este Governo fez um esforço e só para o HDES foram mais de 50 equipamentos que foram adquiridos, correspondendo a um investimento de três milhões de euros. Mas também reconheço que ainda há uma lista significativa e que o governo está atento”.
Realçou os planos que o Governo tem para a área da Saúde em 2024. “Para 2024, e com base em ferramentas financeiras que temos ao nosso dispor, o PRR e programas comunitários, estamos a prever um investimento no HDES superior a 2.7 milhões de euros. Desde já um novo aparelho de TAC, um novo sistema para a dedontricia, um novo sistema para a ecoendoscopia, um novo sistema para a pneumologia, camas, desfilibradores, marquesas de reanimação.”
Falou também na necessidade de um analisador para o serviço de genética que “está nas nossas prioridades”.
Anunciou que, em 2024 vão ser integrados 536 trabalhadores que foram contratados ao abrigo dos contratos COVID e no HDES, serão 396, e “vamos proceder a uma regularização extraordinária porque obviamente fazem falta ao serviço regional de saúde”.
Revelou a governante que a câmara hiperbárica “tem sido contestada junto da Administração e é nossa intenção que, ao longo do mês de Janeiro do próximo ano, se proceda à certificação e manutenção desta câmara. Pretendemos que seja um procedimento anual, e estamos a tentar que o fornecedor seja o responsável por fazer esta certificação e manutenção nos próximos cinco anos. Só desta maneira podemos garantir que a mesma não deixe de funcionar.”
Anunciou, por fim, a criação do Centro Integrado de Anatomia Patologia da Região Autónoma dos Açores. Terá inúmeras vantagens onde se destaca a capacidade das lâminas serem, no imediato, direccionadas para centros de referência e assim conseguirmos ter resultados mais cedo.”
A governante finalizou a sua intervenção salientando que “um hospital não se faz apenas de profissionais mas com profissionais. Nada se faz contra os profissionais e tudo se faz com os profissionais”
Frederico Figueiredo