Alunos querem ser mais ouvidos na escola e pedem algumas melhorias na avaliação para se sentirem mais motivados

Os alunos do 2º e 3º ciclos de todas as escolas dos Açores foram ouvidos no âmbito do ProSucesso e disseram de viva voz quais as principais preocupações que enfrentam em relação à escola, elogiando também a forma como já são incentivados pelos professores a concretizar as suas capacidades. Os resultados foram ontem apresentados no 1º ciclo de conferências “Liceu D’Antero”, por Fabíola Cardoso e Ana Rosa Furtado, responsáveis pelas equipas do ProSucesso - Plano Integrado de Promoção do Sucesso Escolar, que deram “voz aos alunos”. No fundo, como a Comissão Coordenadora do ProSucesso acompanha todas as escolas da Região ouvindo os conselhos executivos e os professores, “achámos que era muito importante ouvir os alunos, porque desde que o ProSucesso foi implementado na Região, em 2015, a Direcção Regional da Educação referiu que era importante que os alunos se envolvessem na análise dos problemas e dos aspectos mais positivos da sua escola, e no encontrar de soluções para as coisas que estão menos bem”, explicou Fabíola Cardoso. “Infelizmente nem todas as escolas fazem isso” e a Comissão Coordenadora começou a “dar o exemplo”. Começaram no ano lectivo passado a ouvir os alunos do 2º e 3º ciclos para saber o que têm a dizer sobre a escola, sobre os professores, sobre as aulas, sobre avaliações. Ou seja, “dar voz aos alunos” que Fabíola Cardoso entende que “é um caminho que não podemos parar de trilhar. É muito importante envolvê-los”. Foi graças a estas conversas com os alunos que a Comissão Coordenadora do ProSucesso conseguiu alguns resultados que podem ser implementados nas escolas para que também se melhore a motivação dos alunos e consequentemente que aprendam melhor. Das conversas com os alunos, a Comissão do ProSucesso avaliou e resumiu algumas frases que sumarizam o que os mais novos pretendem da escola e também dos professores. É sobre estes últimos, que são quase quem passa mais tempo com os alunos durante o dia, que se mostraram conscientes que se preocupam com o futuro deles e com a sua aprendizagem. “E mostram-nos que às vezes são os professores os únicos adultos que acreditam que eles são capazes de ir mais além, que não há motivo nenhum um aluno, filho de um pai e uma mãe que não passaram do 2º ciclo, não chegar à universidade. Embora os pais digam em casa que o aluno deve completar a escolaridade obrigatória e ir trabalhar, a escola diz que pode ir para o ensino superior e os alunos valorizam esta confiança da escola através dos seus professores lhas transmite”, explica Fabíola Cardoso. Além deste lado mais positivo que é reconhecido pelos alunos, há também o outro lado em que os estudantes pedem melhorias para se sentirem mais motivados. “Um tipo de aulas muito expositiva que os alunos já não apreciam e não aprendem apenas dessa maneira. Eles querem que os professores dêem alguma matéria, obviamente, mas não pode ser 90 minutos o professor a falar”, é uma das questões mais ouvidas. Bem como o facto de pedirem “que a avaliação seja mais diversificada, que o seu nível no fim do período e do ano não fique decidido por apenas 2 testes, e que tudo aquilo que conseguem demonstrar que sabem também tenha algum peso na sua avaliação. São essencialmente estes dois aspectos que os alunos mais nos pedem”, exemplifica Fabíola Cardoso. Para já, no ano lectivo passado foram ouvidos os alunos do 2º e 3º ciclos de todas as escolas dos Açores, mas o objectivo é ouvir já este ano os alunos do ensino secundário “e se for possível, no ano seguinte, também ir até ao 1º ciclo e até do pré-escolar, porque embora pequeninos eles têm muitas coisas a dizer”. No entanto, Fabíola Cardoso acredita que “sem dúvida” se deveriam dar mais voz aos alunos. Não só os professores individualmente, mas também os órgãos próprios da escola, “se ouvissem mais os alunos, tenho a certeza que seria muito importante para melhorar as dinâmicas”. Até porque, avança Fabíola Cardoso, os alunos “não nos pedem o impossível, pedem-nos às vezes pequeninas mudanças que podem fazer a grande diferença quer na sensação de bem-estar na escola, porque se eu sou ouvido sou importante e sinto-me bem na minha escola, mas até para criar as condições para eles aprenderem mais. Um professor que fala 90 minutos, pode passar a falar 45 e a pouco e pouco ir melhorando as suas estratégias e contribuindo para melhorar a motivação dos alunos”. E, acrescenta, “alunos mais motivados, são alunos mais interessados, menos indisciplinados e que aprendem melhor. É tudo o que queremos, que aprendam melhor”, concluiu Fabíola Cardoso que foi a primeira a falar no 1º ciclo de conferências “Liceu D’Antero”. Ética na Educação Também inserido neste ciclo de conferências, que decorre até hoje, falou o padre e professor Ricardo Tavares sobre “ética na educação” que optou por um diálogo com os presentes em torno de “ética”, “carácter”, “costumes” e tendo por base a Encíclica Ecológica Laudato Si’ (2015), do Papa Francisco. “Não há duas crises separadas — uma ambiental e outra social —, mas uma única e complexa crise sócio-ambiental. Vivemos, com efeito, uma crise “ética”, explicou Ricardo Tavares. Questiona Ricardo Tavares: “existe relação entre respeito pela natureza e as pessoas que têm menos posses?”, tendo-se gerado a discussão em torno do assunto. “O ser humano é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida económico-social. O trabalho deveria ser o âmbito deste multiforme desenvolvimento pessoal, onde estão em jogo muitas dimensões da vida: a criatividade, a projectação do futuro, o desenvolvimento das capacidades, a exercitação dos valores, a comunicação com os outros, uma atitude de adoração. Que se continue a perseguir como prioritário o objectivo do acesso ao trabalho para todos”, defendeu o também professor e padre. Acrescentou ainda que “o ambiente é um dos bens que os mecanismos de mercado não estão aptos a defender ou a promover adequadamente. Convém evitar uma concepção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos. Dentro do esquema do ganho não há lugar para pensar nos ritmos da natureza”. No entanto, Ricardo Tavares refere que “cada pessoa tem o seu carácter” e “quem não guarda tempo para si, nunca tem tempo para ouvir os outros”, referindo-se ao conceito de educação estética “que consiste em aprender a prestar atenção à beleza e amá-la, o que nos ajuda a sair do pragmatismo utilitarista. Quando não se aprende a parar a fim de admirar e apreciar o que é belo, não surpreende que tudo se transforme em objecto de uso e abuso sem escrúpulos. É um regresso à simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece, sem nos apegarmos ao que temos nem entristecermos por aquilo que não possuímos”, concluiu. O 1º ciclo de conferências “Liceu D’Antero” continua durante o dia de hoje. A partir das 9h15 haverá três conferências em simultâneo. Uma a cargo de Pedro Gonzalez sobre “a actualidade das propostas pedagógicas do Movimento Escola Moderna na sociedade contemporânea”; outra da responsabilidade de Ana Paula Medeiros sobre “ProSucesso na nossa escola” e a “psicomotricidade e a terapia da fala em contexto escolar”, da responsabilidade de Catarina Machado e Maria Joana Medeiros. Pelas 10h30 seguem-se três outras conferências. Maria da Luz Melo vai abordar “dos riscos psicossociais ao burnout dos professores: um caminho incontornável?”; seguindo-se a intervenção de Maria Freitas e Carla Pacheco sobre “trabalho autónomo na sala de aula”; e Ana Cristina Moscatel vai falar sobre “desenho e educação: uma relação oitocentista”. Pelas 11h35 seguem-se as duas últimas conferências com Célia Carvalho, que vai falar sobre “comportamentos de risco na adolescência”; seguindo-se Maria do Carmo Martins que vai fazer uma “breve retrospectiva do ensino da matemática – do ensino básico ao ensino secundário”.
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Autor: Carla Dias

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